A mobilização é de prata, a chance é de ouro

Publicação: domingo, 11 de janeiro de 2009 – Jornal Diário Popular


Cidade pouco se prepara para receber, em uma semana, os 2,3 mil vestibulandos da UFPel e suas famílias de outros municípios


Depois de uma maratona de vestibulares – só em janeiro já foram oito dias de provas entre a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) –, o estudante Gustavo Sicco, 19 anos, candidato ao curso de Medicina, vem a Pelotas para as últimas provas dos sete vestibulares para os quais se inscreveu e presta desde novembro. Natural de Jaguarão, o estudante que há dois anos se prepara em Porto Alegre para entrar na universidade é um dos pelo menos 2,3 mil vestibulandos (20% do total de concorrentes, segundo estimativas) que devem vir de outras cidades tentar uma vaga na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) dias 17 e 18. Apesar desta intensa mobilização que o município irá registrar dentro de uma semana, o clima de férias reinante na cidade há poucos dias das provas ajuda a reforçar a falta de preparativos especiais para receber os visitantes que vêm, sozinhos ou acompanhados, de todo o País. Estudantes de fora que, em poucos meses, podem ser novos moradores e consumidores locais.

O volume é expressivo, tanto que 90% da rede hoteleira já está reservada e a ocupação deve chegar a 100% no dia dos exames, segundo estimativa do Sindicatos dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares (SHBRS). Essa ocupação, conforme o diretor do SHBRS, Eduardo Curi Hallal, se compara aos fins de semana da Fenadoce. “O vestibular fora de dezembro vai recuperar as perdas de janeiro e melhorar a ocupação, que caiu 30% em relação a 2008 por causa do câmbio desfavorável”.

A alta temporada de provas para os hotéis também tem reflexo no comércio. As compras feitas pelos estudantes e o tempo livre de seus acompanhantes para conhecer a cidade e visitar o comércio é outro indicador da importância turística e econômica do envento. Pela experiência em anos anteriores, o presidente do Sindilojas, Renzo Antonioli, acredita em um acréscimo do movimento no sábado pela manhã, período durante o processo seletivo em que as lojas estarão abertas.

Mesmo com o aumento no movimento, Antonioli não vê Pelotas se preparar para receber novos consumidores em potencial. “Poderia haver uma integração muito maior entre Universidade, comércio, hotéis, restaurantes e turismo. Falamos nisso há muito tempo, mas não agimos”, lamenta.

E a união dos potenciais de comércio, serviços e turismo que poderia não só oferecer uma boa estada, mas também conquistar futuros clientes e moradores, segue desarticulada.

Ideia errada de recepção natural

O diretor do Centro Especializado em Seleção (CES) da UFPel, Cláudio Duarte, informa que nenhuma estratégia especial, além da organização das provas, é desenvolvida para receber os estudantes que vêm de outras localidades para o Vestibular 2009, o maior em número de vagas e procura dos últimos anos. O motivo: acreditar que não é necessário.

A justificativa é o porte médio da cidade que, por si só, ofereceria todas as informações e os serviços importantes aos vestibulandos. “A universidade não passa informações diretamente, apenas pelo site”.

Na página oficial do vestibular, além dos dados essenciais ao concurso, como edital e consultas individuais, somente a divulgação das hospedagens alternativas – em pensionatos e residências interessadas em receber estudantes – é feita. Nenhuma informação sobre a cidade está disponível para o futuro universitário da cidade. “Acredito que a prefeitura irá preparar [uma estratégia especial]”, diz Duarte.

Já na Prefeitura, os esforços de Turismo estão voltados para as praias e o veraneio, e o serviço de informações turísticas receberá os estudantes da mesma forma que trabalha durante todo o ano. Na Rodoviária, grande terminal de chegada desse grupo, o posto oferece materiais gráficos com mapas e informações sobre Pelotas. “Não cabe à Prefeitura articular estratégias para o vestibular, e sim à UFPel. Nós vamos preparar a cidade, mas não diretamente para as provas. A estrutura de serviços é a que já existe”, explica o secretário de Comunicação Luiz Carlos Freitas.

A única atenção necessária por parte da prefeitura diz respeito ao transporte. Na semana da prova a Secretaria de Segurança, Transporte e Trânsito irá solicitar às empresas de ônibus que aumentem a frota para atender os horários de deslocamento para a prova, próximo às 8h. “Mas pelo que vimos em anos anteriores, o que já fazemos atende as necessidades do dia”, afirma o secretário Jacques Reydams.

Falta mais articulação

Como nenhum incidente decorrente do fluxo de visitantes nos dias de vestibular costuma ser registrado, fica a impressão de que Pelotas atende todas as necessidades dos vestibulandos. Contudo, para o SHBRS e para o Sindilojas, a movimentação da cadeia turística com o vestibular poderia ser muito maior.

“Saber as datas com antecedência é o ponto de partida para a integração e para a ação”, afirma Antonioli. Com uma articulação feita com, no mínimo, dois ou três meses de antecedência, talvez fosse possível manter o comércio aberto no sábado do processo seletivo e promoções poderiam ser feitas.

Algumas idéias sugeridas pelo presidente do Sindilojas seriam parcerias entre hotéis e comércio ou comércio e restaurantes para oferecer descontos, bem como colocar à disposição nos locais de prova pessoas que oferecessem orientações de lazer e de compras ou vans para transporte dos acompanhantes a pontos turísticos e comércio central. “Temos de tornar tudo mais profissional.”

Mesmas datas

A integração e a divulgação de datas é uma necessidade para todos os setores envolvidos no turismo. “Um problema é a sobreposição de eventos em um mesmo fim de semana, como o vestibular no mesmo fim de semana que a formatura da Medicina, ocorrido em outros anos. São duas datas com boa ocupação que, juntas, causam falta de vagas”, comenta o diretor da SHBRS. Para ele, um calendário de eventos unificado para o município ajudaria na organização e potencializaria os ganhos.


O que dizem


“Faz-se necessário para um futuro próximo estar integrado e criar um calendário de eventos e uma programação”. Renzo Antonioli, presidente do Sindilojas


“Ficamos no aguardo de que saia a data das provas para podermos nos organizar”. Eduardo Curi Hallal, diretor do Sindicato dos Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares


“Não cabe à prefeitura articular estratégias para o vestibular e sim à UFPel. Nós vamos preparar a cidade, mas não diretamente para as provas. A estrutura de serviços é a que já existe.” Luiz Carlos Freitas, secretário de Comunicação

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