Publicação: edição conjunta de domingo e segunda-feira, 12 e 13 de abril de 2009 – jornal Diário Popular
Mais rápida e em expansão, Internet banda larga ainda é realidade de poucos. Para a maioria, os locais pagos são a principal alternativa
Relatórios sobre a Internet no Brasil divulgados no final de março mostram crescimento do acesso a banda larga em 2008, na contramão da crise mundial. O Barômetro da Cisco, pesquisa encomendada pela empresa de tecnologia de mesmo nome, averiguou um aumento de 46% no número de conexões em todo o País. Para o Ibope Nielsen Online, o crescimento do acesso à rede por banda larga, medido pelo número de usuários ativos e não apenas pelo de pontos de conexão, foi de 24%, entre fevereiro de 2008 e o mesmo mês de 2009. Mas estes números nem sempre representam o contato que o brasileiro tem com a Internet. Mesmo em expansão, a conexão por banda larga ainda é luxo e as projeções são baixas e apontam que apenas entre 5,4% (Barômetro da Cisco) e 11,2% (Ibope Nielsen Online) dos brasileiros podem navegar com rapidez.
O acesso à Internet banda larga ainda não está disponível para a maioria e a professora da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Regina Trilho Otero, nota isso até mesmo dentro da sala de aula. Pelo menos metade de seus alunos não têm Internet em casa. A saída para eles é a de muitos brasileiros: a lan house, um estabelecimento onde se paga pelo uso do computador e da Internet conforme o tempo utilizado, que chega a custar R$ 1,00 a hora de conexão. É nela que a verdeira inclusão digital está acontecendo, segundo a especialista. “E dá gosto de ver por que quem não tem o computador 100% do tempo faz um uso ávido quando pode.”
Infraestrutura é a principal barreira
O crescimento que se vê hoje poderia ser muito maior na avaliação do analista de mídia do Ibope Nielsen Online, José Calazans, que vê na baixa penetração da Internet no País uma oportunidade de crescimento rápido. “A principal barreira é a infraestrutura de banda larga. Muitas pessoas de outras regiões (fora de São Paulo), mesmo que queiram e tenham renda suficiente para bancar o custo de uma conexão, não conseguem adquirir porque o serviço ainda não está disponível.” A falta de oferta também está relacionada à renda, porque, como explica Calazans, nas regiões das cidades em que o serviço é oferecido a renda média da população é mais alta.
Preço alto e falta de opções para contratar a conexão para a residência lota lan houses de bairro como a de Edson Mesquita, no Navegantes. “Aqui só tem uma operadora e sem a concorrência é preciso assinar uma franquia de telefone alta e pagar a banda larga, que é cara. É mais fácil dar de R$ 1,00 em um R$ 1,00 para o teu filho ir na lan house.” E o foco do negócio de Edson foge do estereótipo de casa de jogos online. O público dele procura um lugar tranquilo para estudar, pesquisar e conversar na Internet. “É um bairro de poder aquisitivo baixo e a Internet é uma realidade atual. A lan house faz parte dessa realidade.”
Regina, que concorda com a importância desses espaços públicos de acesso, ressalta a importância que o brasileiro de baixa renda dá ao uso da Internet. “Ela tem um significado muito forte, é vista como uma oportunidade de mudança de vida.”
Boa parte do público de Edson tem uma particularidade: possui computador em casa, mas não a Internet rápida, como Jackeline Amaral, que desistiu da conexão a rádio que mantém e vai direto utilizar as máquinas de Edson. Apesar de todos os computadores ocupados, Jackeline esperava ansiosa pela conexão enquanto conversava do o Diário Popular. A visita daquele dia era para saber o resultado de um concurso feito em Santa Catarina. A resposta da mudança de vida viria pela rede.
Tecnologia ajuda a disseminar o sinal móvel
Estender a rede física da Internet fixa é um problema e impede que muita gente possa conectar. Entretanto, a tecnologia móvel de conexão banda larga que chegou ao País no ano passado já se mostra como uma alternativa para as áreas sem cobertura por cabo ou ADSL. As operadoras não divulgam números desse crescimento – de planos fixos ou móveis -, mas tanto o analista de mídia quanto a pesquisadora apostam na ampliação do número de usuários a partir da tecnologia 3G, por exemplo.
Oferecida pelas operadoras de celular, a conexão que usa um modem pouco maior que um pen drive quando ligada ao computador pode ser acessada de qualquer ponto dentro da área de cobertura da rede. Por enquanto, o acesso ainda é caro, mas há uma tendência de popularização.
Um bem para a casa
Mesmo com as dificuldades, o brasileiro vê a Internet como um bem a ser mantido dentro de casa e isso é garantia de crescimento contínuo, na análise de Calazans. E é assim que vê a sua conexão o estudante de Jornalismo Diego Balinhas. Natural de Rio Grande, com 13 anos já usava acesso discado e, para se mudar para o Cassino, primeiro a Internet teve de ser instalada lá. Há nove meses morando em Pelotas, Diego tem hoje um plano de dez megabytes por segundo (mbps) – um dos mais rápidos disponíveis na cidade, que não passam de 20 mbps, e muito mais veloz que as populares velocidades entre 500 kbps e um mbps.
Por enquanto os dez mbps são uma “degustação” oferecida pela operadora desde o início de março e Diego paga pouco mais de um quinto do valor que o link realmente custa. Promoção conquistada depois de horas de negociação com o teleatendimento. Valeu a pena. Com essa conexão, em pouco mais de dez minutos ele baixa um filme a partir de sistemas de compartilhamento de arquivos. “A navegação é quase instantânea. Só demora o que depende dos outros, como quando o servidor de uma página está sobrecarregado. Em dia de listão, por exemplo, nem a melhor conexão consegue entrar no site da universidade.”
Essa quase instantaneidade é extremamente útil ao aprendizado, afirma Regina Trilho Otero. Segue o ritmo do pensamento e a pessoa não se dispersa. "Com o computador, quando se pensa em algo é só seguir o link do pensamento.” Por isso a ampliação dos pontos de acesso a banda larga – e consequentemente a expansão do número de pessoas que usam cada conexão – é tão importante. Enquanto não chega à todas as residências, os brasileiros com seu jeitinho tentam fazer parte da rede mundial de computadores. Para os especialistas, é uma questão de tempo para que os 62,3 milhões que têm acesso à Internet em algum ambiente se multipliquem.
Mais rápida e em expansão, Internet banda larga ainda é realidade de poucos. Para a maioria, os locais pagos são a principal alternativa
Relatórios sobre a Internet no Brasil divulgados no final de março mostram crescimento do acesso a banda larga em 2008, na contramão da crise mundial. O Barômetro da Cisco, pesquisa encomendada pela empresa de tecnologia de mesmo nome, averiguou um aumento de 46% no número de conexões em todo o País. Para o Ibope Nielsen Online, o crescimento do acesso à rede por banda larga, medido pelo número de usuários ativos e não apenas pelo de pontos de conexão, foi de 24%, entre fevereiro de 2008 e o mesmo mês de 2009. Mas estes números nem sempre representam o contato que o brasileiro tem com a Internet. Mesmo em expansão, a conexão por banda larga ainda é luxo e as projeções são baixas e apontam que apenas entre 5,4% (Barômetro da Cisco) e 11,2% (Ibope Nielsen Online) dos brasileiros podem navegar com rapidez.
O acesso à Internet banda larga ainda não está disponível para a maioria e a professora da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Regina Trilho Otero, nota isso até mesmo dentro da sala de aula. Pelo menos metade de seus alunos não têm Internet em casa. A saída para eles é a de muitos brasileiros: a lan house, um estabelecimento onde se paga pelo uso do computador e da Internet conforme o tempo utilizado, que chega a custar R$ 1,00 a hora de conexão. É nela que a verdeira inclusão digital está acontecendo, segundo a especialista. “E dá gosto de ver por que quem não tem o computador 100% do tempo faz um uso ávido quando pode.”
Infraestrutura é a principal barreira
O crescimento que se vê hoje poderia ser muito maior na avaliação do analista de mídia do Ibope Nielsen Online, José Calazans, que vê na baixa penetração da Internet no País uma oportunidade de crescimento rápido. “A principal barreira é a infraestrutura de banda larga. Muitas pessoas de outras regiões (fora de São Paulo), mesmo que queiram e tenham renda suficiente para bancar o custo de uma conexão, não conseguem adquirir porque o serviço ainda não está disponível.” A falta de oferta também está relacionada à renda, porque, como explica Calazans, nas regiões das cidades em que o serviço é oferecido a renda média da população é mais alta.
Preço alto e falta de opções para contratar a conexão para a residência lota lan houses de bairro como a de Edson Mesquita, no Navegantes. “Aqui só tem uma operadora e sem a concorrência é preciso assinar uma franquia de telefone alta e pagar a banda larga, que é cara. É mais fácil dar de R$ 1,00 em um R$ 1,00 para o teu filho ir na lan house.” E o foco do negócio de Edson foge do estereótipo de casa de jogos online. O público dele procura um lugar tranquilo para estudar, pesquisar e conversar na Internet. “É um bairro de poder aquisitivo baixo e a Internet é uma realidade atual. A lan house faz parte dessa realidade.”
Regina, que concorda com a importância desses espaços públicos de acesso, ressalta a importância que o brasileiro de baixa renda dá ao uso da Internet. “Ela tem um significado muito forte, é vista como uma oportunidade de mudança de vida.”
Boa parte do público de Edson tem uma particularidade: possui computador em casa, mas não a Internet rápida, como Jackeline Amaral, que desistiu da conexão a rádio que mantém e vai direto utilizar as máquinas de Edson. Apesar de todos os computadores ocupados, Jackeline esperava ansiosa pela conexão enquanto conversava do o Diário Popular. A visita daquele dia era para saber o resultado de um concurso feito em Santa Catarina. A resposta da mudança de vida viria pela rede.
Tecnologia ajuda a disseminar o sinal móvel
Estender a rede física da Internet fixa é um problema e impede que muita gente possa conectar. Entretanto, a tecnologia móvel de conexão banda larga que chegou ao País no ano passado já se mostra como uma alternativa para as áreas sem cobertura por cabo ou ADSL. As operadoras não divulgam números desse crescimento – de planos fixos ou móveis -, mas tanto o analista de mídia quanto a pesquisadora apostam na ampliação do número de usuários a partir da tecnologia 3G, por exemplo.
Oferecida pelas operadoras de celular, a conexão que usa um modem pouco maior que um pen drive quando ligada ao computador pode ser acessada de qualquer ponto dentro da área de cobertura da rede. Por enquanto, o acesso ainda é caro, mas há uma tendência de popularização.
Um bem para a casa
Mesmo com as dificuldades, o brasileiro vê a Internet como um bem a ser mantido dentro de casa e isso é garantia de crescimento contínuo, na análise de Calazans. E é assim que vê a sua conexão o estudante de Jornalismo Diego Balinhas. Natural de Rio Grande, com 13 anos já usava acesso discado e, para se mudar para o Cassino, primeiro a Internet teve de ser instalada lá. Há nove meses morando em Pelotas, Diego tem hoje um plano de dez megabytes por segundo (mbps) – um dos mais rápidos disponíveis na cidade, que não passam de 20 mbps, e muito mais veloz que as populares velocidades entre 500 kbps e um mbps.
Por enquanto os dez mbps são uma “degustação” oferecida pela operadora desde o início de março e Diego paga pouco mais de um quinto do valor que o link realmente custa. Promoção conquistada depois de horas de negociação com o teleatendimento. Valeu a pena. Com essa conexão, em pouco mais de dez minutos ele baixa um filme a partir de sistemas de compartilhamento de arquivos. “A navegação é quase instantânea. Só demora o que depende dos outros, como quando o servidor de uma página está sobrecarregado. Em dia de listão, por exemplo, nem a melhor conexão consegue entrar no site da universidade.”
Essa quase instantaneidade é extremamente útil ao aprendizado, afirma Regina Trilho Otero. Segue o ritmo do pensamento e a pessoa não se dispersa. "Com o computador, quando se pensa em algo é só seguir o link do pensamento.” Por isso a ampliação dos pontos de acesso a banda larga – e consequentemente a expansão do número de pessoas que usam cada conexão – é tão importante. Enquanto não chega à todas as residências, os brasileiros com seu jeitinho tentam fazer parte da rede mundial de computadores. Para os especialistas, é uma questão de tempo para que os 62,3 milhões que têm acesso à Internet em algum ambiente se multipliquem.
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