Em dia de desfile dos campeões, faixas e escarapelas exibem orgulho de vencedores

Publicação: sexta-feira, 4 de setembro de 2009 - site da Expointer 2009


Em dia de desfile dos grandes campeões é fácil identificar quem foi escolhido como o melhor entre os da mesma raça. As faixas de grandes campeões e reservados de grande campeão, expostas em frente aos espaços da cabanhas, e as escarapelas coloridas, que mostram o prêmio recebido por animal, mudaram o visual dos pavilhões de animais na Expointer 2009. O sorriso largo também não esconde: trata-se de um criador campeão, orgulhoso pelo reconhecimento de seus animais e do trabalho do ano inteiro.


No condomínio de cabanhas Estância Olhos D'água, Rincón, Companhia Azul, Corticeira e Azul, além das rosetas afixadas às placas, os sete títulos de grande campeão e reservado de grande campeão estão expostos largamente à frente do pavilhão do gado de corte. "Foi um ano maravilhoso. Isso mostra a consistência de um trabalho feito na estância, mostra que a gente veio para ficar e não foi por sorte", afirma o criador e proprietário da Estância Olhos D'água, Átila Dornelles. A comemoração é tanta que ele e outro produtor tiveram as cabeças raspadas após receber os títulos.

Outros estabelecimentos mostram a história de prêmios conquistados, com rosetas de outros anos perfiladas sobre as baias dos animais vencedores. Dentro dos baús da Fazenda Santa Clara, um pequeno museu se revela ao abrir das tampas. Há escarapelas que datam de 1993. "Ainda ficaram algumas na fazenda, fora as que se estragaram e colocamos fora", explica, orgulhoso, o cabanheiro Almerindo dos Santos Melo.

As faixas e as escarapelas e, principalmente, os grandes campeões que as conquistaram, serão vistos hoje durante a inauguração oficial da 32ª Expointer, na pista central do parque de exposições Assis Brasil, a partir das 17h30. Entram em pista 142 animais de grande e de pequeno porte premiados como os melhores de suas raças.


Foto: Vilmar da Rosa/ SEAPPA

Expointer é termômetro de negócios para feiras de primavera

Publicação: sexta-feira, 4 de setembro de 2009 - site da Expointer 2009


Além de um dos mais importantes eventos do agronegócio brasileiro, a Expointer é também ponto de partida para o ciclo de feiras de primavera que se inicia agora e segue até o fim da estação em todo o Estado. “A Expointer é um balizador de preços para os eventos da primavera”, afirma o chefe do Serviço de Exposições e Feiras da Secretaria da Agricultura, José Arthur Martins. A mostra é tomada por criadores e produtores como uma referência de preços para as futuras negociações.

Os financiamentos para a compra de animais no Banrisul mostram o bom momento de negócios e promete ser o termômetro para as próximas feiras, conforme o diretor de crédito do banco, Urbano Schmitt. “A perspectiva é de bons negócios. O agronegócio está bem e os programas Mais Alimentos e Finame propiciam um maior volume de comercialização”, explica.

Ao todo, a instituição oferecerá R$ 40 milhões em linhas de crédito específicas para as feiras que vão de agosto a dezembro. O pagamento em 24 meses e os juros de 6,75% ao ano também são bons atrativos conforme o diretor.

A facilidade é notada nos resultados: os financiamentos durante a Expointer de 2009 já superam em 52% a edição passada. Schmitt acredita que, após a Feira de Novilhas de Qualidade que ocorre neste sábado (05) na Farsul, esse índice deve se consolidar como o final para a mostra deste ano.

Sorteio de prêmios valoriza trabalho de cabanheiros

Publicação: sábado, 5 de setembro de 2009 - site da Expointer 2009


Depois da premiação aos animais, a manhã de sábado (05) foi de premiar os cabanheiros. Uma TV de 29 polegadas tela plana, um aparelho de som e um aparelho de DVD foram sorteados pela Farsul e pela Secretaria da Agricultura entre os 101 cabanheiros que desfilaram, na noite de sexta-feira, com os grandes campeões na pista central.

O sorteio, que acontece todos os anos, é uma forma de valorizar o trabalho desenvolvido pelos profissionais. "Esse é um sinal de reconhecimento, de respeito e de gratidão pelo trabalho de vocês. O desfile foi feito para destacar vocês e os animais que vocês cuidam com tanto carinho", afirmou o secretário da Agricultura, João Carlos Machado.

A divulgação dos vencedores teve a ajuda da pequena visitante Natália, que retirou os números 71, 74 e 01. O ganhador do aparelho de DVD foi Raul Garcia Filho, da Cabanha VB, de Eldorado do Sul. O aparelho de som foi para Wilson Oliveira, da Cabanha Rodeio dos Pardos, de Morro Redondo. O prêmio mais cobiçado, a TV 29 polegadas, foi para Jesus Augusto dos Santos, da Cabanha Santa Camila, de Alegrete.

Feliz, Wilson saiu abraçado ao aparelho de som e sob as brincadeiras dos colegas. Sortudo, é a segunda vez que tem o número sorteado. A primeira foi em 2007, quando recebeu a TV. "O velhinho lá de cima ajuda o velhinho aqui", brincou ao fazer referência a sua idade. Aos demais participantes do sorteio, o secretário ressaltou a posição de sucesso na Expointer. "Só entra aqui quem tem mérito. Ganhando ou não ganhando hoje, vocês são vencedores".


Foto: Vilmar da Rosa/SEAPPA

Boulevard da Expointer abre espaço para desfile de confecções em lã

Publicação: quarta-feira, 2 de setembro de 2009 - site da Expointer 2009


Tradicional ponto de encontro nos fins de tarde na Expointer, o charmoso Boulevard abriu espaço na tarde desta quarta-feira (02) para o 6° Ideal Moda Fashion, desfile que apresentou as criações em lã Ideal de artesãs expositoras da feira. Ponchos, casacos, mantas, vestidos e até bolsas confeccionadas com os fios foram apresentados. Os grandes campeões e reservados de grandes campeões também subiram na passarela para mostrar o ponto inicial da cadeia produtiva da tecelagem. Para complementar os looks, apliques de lã imitando cabelos e bouquets de flores de lã foram ostentados pelas modelos.

O retorno da iniciativa é palpável, conforme a diretora da Associação Brasileira de Criadores de Ideal e idealizadora do evento, Cleusa Piegas. "Isso é uma vitrine para divulgar o nosso produto, que é a lã, e somos cada vez mais procurados", comenta sobre o sucesso da apresentação.

A artesã Carmem Simões Pires, de Gramado, participou pela primeira vez da mostra convidada pela organizadora. Para ela, a oportunidade de apresentar nove peças de sua coleção é uma vitrine interessante.

Concentrado no vai-e-vem das modelos, o criador de ovinos de lã Milton Fernandes, de Bagé, fez questão de conferir as criações. "Esse é o ponto final do que a gente faz no campo, é bom para entender para onde vai o fio que a tua ovelha produz", avaliou.

Foto: Mauro Schaefer/SEAPPA

Outras publicações de destaque no site da Expointer 2009

Das águas, a sabedoria e o sustento

Publicação: domingo, 21 de junho de 2009 – jornal Diário Popular

Antropólogos voltam os olhos para a vida em colônias de pescadores como a Z-3; as dificuldades, a linguagem e os conflitos são observados a partir da própria realidade cotidiana dos trabalhadores

Há 59 anos, seu Antonio Tomás Ourique, hoje com 72 anos, começava a aprender um ofício que iria determinar toda sua vida e sua relação com a natureza. Morador da Colônia Z-3, com o pai aprendeu a ser pescador e da água sempre tirou o sustento de toda família. “Acho que a gente já nasce com o destino para a pescaria.” Mais que uma profissão, uma identidade, compartilhada com familiares, amigos e vizinhos.

O universo de pessoas como seu Antonio foi a temática central do seminário Pescadores e pescarias: saberes, significados e conflitos, que ocorreu na Universidade Federal de Pelotas por iniciativa do Departamento de História e Antropologia. No encontro que reuniu pesquisadores e alunos na Faculdade de Museologia, o oceanógrafo Gustavo Moura falou sobre conflitos territoriais e resistência no estuário da Lagoa dos Patos.

Já o antropólogo Gianpaolo Adomilli falou sobre saber tradicional, modernização e territorialidade na pesca embarcada, focando o caso dos pescadores de São José do Norte, pesquisado em seu doutorado. “As populações de pescadores mantêm comunicação, em maior ou menor grau. O que ocorre no mar e na lagoa é parecido”, comenta. E por isso a discussão pode se estender à colônia de Pelotas. Por mais presente o avanço tecnológico e por mais fortes que sejam os impactos socioambientais da modernidade, a tradição permanece e a profissão ainda passa de pai para filho, de irmão para irmão.

Destino e amor

Gosto ainda maior pela pesca tem o filho adotivo de Ourique, Tiago Campos, de 23 anos. Desde os 12 o rapaz segue a profissão da família e a vontade inclusive o fez abandonar o Ensino Médio. O deslocamento diário até a sede o principal entrave na conciliação de trabalho e estudo. “Talvez tivesse continuado a estudar se fosse aqui na Z-3. No centro, precisa de mais coisas, a passagem, uma roupa melhor, o dinheiro para um lanche.”

Mesmo assim, nem por isso o saber de Tiago em mais de dez anos de atividade deveria ser desvalorizado, afirma o antropólogo. O conhecimento e a memória das comunidades pesqueiras, como a de São José do Norte pesquisada por Adomilli, sobre a costa, a Lagoa dos Patos e o oceano, tanto pelo aspecto natural quanto o cultural, é rico e não deveria ser ignorado ou perdido. “Se isso ocorre, no futuro gastam milhões para pesquisar e fazer um levantamento sobre a memória deles.” Fonte viva e de fácil acesso hoje.

Conflitos e invisibilidade

Apesar do conjunto de saberes e memórias, Adomilli percebeu, em sua pesquisa, uma certa invisibilidade do grupo para a sociedade e o poder público. “Falta um encontro. O saber científico não é superior ao deles, mas existem impasses históricos e posturas que contribuem para a marginalização dos grupos.” A falta de um diálogo que leve em consideração os conhecimentos de quem vive a pesca na prática é sentida pelos pescadores nas determinações oficiais.

Ourique exemplifica isso na escolha de um único tipo de malha para a pesca em toda a lagoa. “No Fórum da Lagoa dos Patos decidiram que seria a malha 50, mas essa só pega peixes maiores. Aqui para nós, se não for a 45, não conseguimos pegar.” Para ele, cada local deveria ter especificações próprias do que é permitido e o que não, bem como a adequeação dessas normas conforme a safra. “Duarante o defeso, o liguado e o peixe-rei são liberados, mas a malha é proíbida. Vou pescar com o quê? Com caniço?” brinca.

É o trabalho de normatização genérica para abarcar realidades tão diversas identificado por Adomilli. “O alto mar, o centro da Lagoa e a baía exigem distintos saberes. O poder público não vê a diferenciação e elabora normas que não se encaixam para todos.” O resultado, para ele, são pescadores engessados para acompanhar o ritmo da natureza.

Os impasses estão, também, dentro das comunidades pesqueiras. “A escassez de espaço pesqueiro tem impactos na comunidade”, avalia o antropólogo. Para Ourique, falta concordância. “Em terra não existe união. No mar, pode ser meu inimigo, mas eu não vou deixar com um motor estragado, sou obrigado a rebocá-lo. Agora, aqui, é cada um por si e Deus por todos. Niguém concorda com niguém.” Conforme o trabalhador, o pensamento individualista dificulta até mesmo reivindicações frente a orgãos como o Ibama e prejudica toda a categoria. Mas no mar ou na Lagoa, eles sabem que nunca estão sozinhos.

Para entender e discutir a sociabilidade na Rede

Autora pelotense Raquel Recuero autografa hoje seu primeiro livro: Redes sociais na Internet

Seja com a leitura ou produção de um blog, a manutenção de um perfil no Orkut ou a divulgação de fotos no Flickr, como bem comentou o pesquisador André Lemos em sua apresentação, o tema do livro Redes sociais na Internet, da autora pelotense Raquel Recuero, já virou cotidiano. É comum ouvir falar ou estar inserido nessa forma de interação social tão contemporânea, mas raras são as produções bibliográficas, especialmente em português, a discutirem a fundo o assunto.

O lançamento do primeiro livro individual da jornalista, doutora em Comunicação e Informação e professora da Universidade Católica de Pelotas ocorre hoje, a partir das 18h, em coquetel seguido de sessão de autógrafos na Livraria Vanguarda (Gonçalves Chaves, 374/2). A publicação da Editora Sulina em breve será complementada por um site, no qual uma versão gratuita para download estará disponível, e por um aplicativo para iPhone, ambos a cargo da Cubocc. “Acreditamos que o importante é divulgar o conhecimento. É uma experiência que vamos fazer com a editora, ver até onde as pessoas deixam de comprar ou se elas se interessam e vão atrás da versão impressa.”

A obra, uma das primeiras em sua temática, é dividida em duas partes. A primeira, mais conceitual, oferece os caminhos para compreender quem são os atores sociais e como eles criam conexões nesse ambiente virtual, aborda questões como popularidade, autoridade, cooperação e conflito, e como isso impacta a sociedade. Formulações vindas na maior parte da tese de doutorado de Raquel. “Essa é mais teórica, apesar de ter simplificado ao máximo para que ficasse mais acessível.”

Já a segunda parte trabalha aspectos das redes sociais partindo de exemplos bastante conhecidos, como Facebook, Twitter e tantos outros que influenciaram até mesmo as eleições norte-americanas de 2008. O conteúdo, aí, vem das pesquisas realizadas após o doutoramento. Para a autora, a ligação entre teoria e exemplo oferece instrumentos para quem quer entender e se apropriar das redes sociais para a publicidade ou para a difusão de informações.

Em busca das redes

Mesmo recém saído do forno, o livro já faz sucesso entre os interessados pelo assunto. No lançamento realizado no 18º Encontro Anual da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), na última semana em Belo Horizonte, já não havia exemplares a venda no segundo dia. As expectativas da editora foram superadas. Na livraria Vanguarda, já na sexta-feira a grande procura fazia os vendedores brincarem com uma possível falta de estoque para o coquetel de hoje.

Confira!

O QUÊ: coquetel de lançamento do livro Redes sociais na Internet, de Raquel Recuero (Editora Sulina, 191 páginas, coleção Cibercultura)
QUANDO: hoje, às 18h
ONDE: a sessão de autógrafos ocorre na Livraria Vanguarda em Pelotas (rua Gonçalves Chaves, 374/2).
QUANTO: exemplares do livro custam R$ 30,00.

Um retorno conturbado

Publicação: edição conjunta de sexta-feira e sábado, 1º e 2 de maio de 2009 – jornal Diário Popular

Atalho criado pelo uso dos condutores é apontado como perigoso pela prefeitura

Ele não passa de uma parte do canteiro central da avenida Bento Gonçalves transformado em retorno, mas, apesar de irregular, é uma das rotas mais fáceis – e rápidas – para as ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) desde que se transferiu para o final da rua General Argolo, atrás do Hemocentro de Pelotas.

Quando o atendimento precisa ser feito no bairro Fragata ou na vila Castilho, por exemplo, cortar caminho por ali possibilita que as unidades passem para a pista da avenida que vai em direção à rodoviária sem antes ter de ir até a rua Santos Dumont e voltar. Uma economia de três quadras e seis sinaleiras no caminho para salvar vidas.

Mesmo oferecendo facilidade, a total falta de conservação do atalho, que surgiu com o uso da população há pelo menos 15 anos, conforme a Secretaria de Segurança, Transporte e Trânsito (SSTT), prejudica o deslocamento dos veículos. “A agilidade fica comprometida. Essas pequenas demoras interferem no atendimento final”, afirma a coordenadora geral do Samu em Pelotas, Edi Marlene Monteiro. É uma distância a mais que se interpõe aos 40 atendimentos diários que fazem em média.

O secretário de Obras, João Tavares, afirma que, como a passagem não faz parte do plano viário da cidade, sua pavimentação não pode ser feita. “O retorno não é oficial e é perigosíssimo”, afirma o titular da SSTT, Jacques Reydams. Para ele, a solução seria executar um projeto já elaborado que cria um retorno em frente ao ginásio do Colégio Pelotense, medida que minimizaria o risco atual do cruzamento, que não oferece boa visibilidade. Mas o projeto não tem previsão para sair do papel. Entretanto, provisoriamente, Reydams entende a necessidade de se qualificar a passagem e afirma ser possível discutir com a Secretaria de Obras uma alternativa.

Obras no Dom Antônio Zattera vão até 10 de maio

Publicação: terça-feira, 28 de abril de 2009 – jornal Diário Popular

Atraso no cronograma é atribuído às chuvas de janeiro e aos ajustes que precisam ser feitos com o andamento do trabalho dos operários no parque

A obra atrasou, mas a revitalização do parque Dom Antônio Zattera deve ser entregue à comunidade até o dia 10 de maio. A gerência da construção afirma que faltam detalhes para que seja finalizada, como a colocação dos últimos bancos, a construção da fonte central e a manutenção dos canteiros. A prorrogação do prazo é atribuída às chuvas de janeiro e aos acertos necessários no decorrer trabalho.

“É um atraso normal para uma obra desse porte”, considera a gerente do contrato, a arquiteta Patrícia Nickhorn e Silva. E ela afirma que o prazo é o mesmo para as obras da rua Lobo da Costa, em frente ao Theatro Guarany. Além das construções de calçadas, espaços de lazer e a colocação do aparato hidráulico e elétrico, toda a jardinagem do perímetro será finalizada em menos de 15 dias.

Mas antes mesmo da inauguração oficial a população já se apropria das novas instalações e até a chama de “pequena Redenção”, em alusão ao Parque Farroupilha, em Porto Alegre. A moradora do bairro Cruzeiro do Sul, Maria José Moreira, e a filha Emilli já aproveitam o espaço reformado para relaxar à tarde. “Venho para ficar em paz. Está ficando lindo, muito harmônico”, elogia Maria José.

A rio-grandina Indaia Dutra também aproveita o espaço aberto quando vem visitar o afilhado, mas sente falta de brinquedos apropriados à primeira infância na pracinha recém-construída. “Não conheço o projeto, mas espero que venha contemplar as diferentes idades, com balanços para as várias faixas etárias e tudo mais”.

Pneus atrapalham brincadeira

Por falta de especificação no projeto original, segundo o secretário de Urbanismo, Luciano Oleiro, pneus inteiros foram escolhidos para os assentos dos balanços, o que vem dificultando as brincadeiras dos menores. Ao tomar conhecimento do problema, o secretário se comprometeu em discutir junto à Secretaria de Serviços Urbanos a substituição do material. “É bom que essas coisas que a comunidade nota com o uso cheguem para gente. Queremos criar soluções, não problemas”.

Da contravenção para o bem da comunidade

Publicação: domingo, 26 de abril de 2009 – jornal Diário Popular

As mais de 300 máquinas caça-níqueis que lotam delegacias e depósitos judiciais de Pelotas podem virar computadores para o serviço público

Elas enchem depósitos judiciais e atravancam delegacias de polícia. Só em Pelotas, estima-se que pelo menos 300 máquinas caça-níqueis estejam em poder do judiciário, e ao invés de serem destruídas, destino mais comum quando os processos nos quais são prova são concluídos, os objetos originalmente projetados para a contravenção podem virar computadores a serem doados a instituições carentes, escolas e até mesmo à administração pública.

A pedido do Diário Popular, o Pró-Reitor Adjunto de Extensão do Instituto Federal Sul-rio-grandense, Miguel Baneiro, e o professor do curso de Eletrônica, Rafael Galli, visitaram a 2ª Delegacia de Polícia Civil de Pelotas (2ª DP) e, ao ver os componentes dos caça-níqueis lá depositados, confirmaram a viabilidade de sua transformação. “O equipamento que tem aí é muito melhor que muitos que temos”, comenta Galli. Paças básicas como monitores LCD, processadores, placas de som e vídeo, fonte de alimentação, pentes de memória e, em alguns casos, nobreaks compõem os aparelhos de jogos. Com o acréscimo de um disco rígido (HD), para o armazenamento de dados, e periféricos como teclado e mouse, computadores totalmente desvinculados de sua origem poderiam ser confeccionados.

Os custos de um projeto como esse, se feito a partir de parcerias, poderia ser mínimo, afirma Baneiro. Para ele, a participação de Ministério Público, iniciativa privada e a comunidade, com a doação do material complementar que geralmente é descartado quando substituído em empresas ou até em casa, viabilizaria a iniciativa. E se inspira em outros projetos do IF-Sul, que utilizaram materiais que virariam sucata e acabaram premiados, como o carro elétrico desenvolvido por alunos.

Ver as máquinas terem um destino diferente do lixo seria uma inquietação à menos para o chefe da investigação da 2ª DP, José Portela. “Isso poderia ser revertido para sociedade de outra forma, o mal fazendo o bem. Só não posso admitir que isso vai virar em nada”, comenta ao lembrar as diversas máquinas que viu terem seus componentes inutilizados pela ação do tempo ou pela destruição determinada judicialmente.

Para ele, utilizar a mão de obra de jovens apenados ou em situação de risco para a montagem dos PCs seria o ideal, já que os capacitaria para o mercado de trabalho. “As pessoas dos órgãos competentes tem que conversar para resolver esse problema.”

Entretanto, a 2ª promotora de Justiça criminal, Maria Fernanda Pitrez, responsável por toda a operação em torno dos caça-níqueis na cidade, não quis dar entrevista ou se pronunciar por meio de sua assessoria de imprensa sobre o assunto.

Projeto Alquimia

A ideia não é nova; cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e de outros cinco Estados já têm projetos de inclusão digital que beneficiam tanto os aprendizes que fazem a montagem dos computadores com as peças das máquinas de azar quanto aqueles que recebem os equipamentos.

Em Porto Alegre, o Projeto Alquimia, nascido de uma parceria entre o Ministério Público e o Centro Social Marista, monta os computadores a partir das peças que podem ser aproveitadas e de outros equipamentos de informática que seriam descartados. A madeira segue para uma divisão de marcenaria, e na mão dos aprendizes vira móveis e material para artesanato. Os demais custos do projeto são cobertos pelos valores apreendidos dentro das máquinas.

Fazer o reaproveitamento do material beneficia também o ambiente. Metais pesados presente nos componentes, como mercúrio, cádmio, chumbo e cromo, se tornam uma fonte de contaminação de água e solo com a destruição e descarte no lixo comum.

Da Austrália para a América Latina sobre duas rodas

Publicação: quinta-feira, 16 de abril de 2009 – jornal Diário Popular

Eles trocaram a segurança da casa em Brisbane, Autrália, pela vida em cima de uma moto BMW. Carol, 47 anos, e Ken Duval, 56, estão desde setembro em uma aventura de três anos para conhecer os mais diversos recantos da América Latina. Não é a primeira vez que o casal sai pelo mundo. Na primeira viagem, eles rodaram 200 mil quilômetros em 57 países da América do Norte, Europa, África e Ásia, entre 1997 e 2001. A parada para conhecer Pelotas é a primeira de uma série pelo interior e pela costa do Brasil.

A moto é o meio de transporte e o lar do casal. As poucas peças de roupa, o material para acampamento e uma ‘cozinha’ – nada mais que fogareiro, panelas e alguns utensílios – seguem nos baús que ladeiam o veículo. “É preciso se desapegar das coisas materiais. É um aprendizado”, afirma Carol.

Para se preparar financeiramente para a aventura, eles afirmam ter trabalhado muito e vendido a casa, uma forma também de evitar a preocupação com o patrimônio. “Tudo o que possuímos está na moto”, afirma Ken.

A decisão de viver a vida na estrada foi tomada na década de 1980, depois de rodarem por nove meses pela Austrália e pela Nova Zelândia. “Eu sempre fui motociclista, ela sempre foi viajante. Unimos as duas coisas”, explica Ken.

Popularização da Internet passa pela lan house

Publicação: edição conjunta de domingo e segunda-feira, 12 e 13 de abril de 2009 – jornal Diário Popular

Mais rápida e em expansão, Internet banda larga ainda é realidade de poucos. Para a maioria, os locais pagos são a principal alternativa

Relatórios sobre a Internet no Brasil divulgados no final de março mostram crescimento do acesso a banda larga em 2008, na contramão da crise mundial. O Barômetro da Cisco, pesquisa encomendada pela empresa de tecnologia de mesmo nome, averiguou um aumento de 46% no número de conexões em todo o País. Para o Ibope Nielsen Online, o crescimento do acesso à rede por banda larga, medido pelo número de usuários ativos e não apenas pelo de pontos de conexão, foi de 24%, entre fevereiro de 2008 e o mesmo mês de 2009. Mas estes números nem sempre representam o contato que o brasileiro tem com a Internet. Mesmo em expansão, a conexão por banda larga ainda é luxo e as projeções são baixas e apontam que apenas entre 5,4% (Barômetro da Cisco) e 11,2% (Ibope Nielsen Online) dos brasileiros podem navegar com rapidez.

O acesso à Internet banda larga ainda não está disponível para a maioria e a professora da Universidade Católica de Pelotas (UCPel), Regina Trilho Otero, nota isso até mesmo dentro da sala de aula. Pelo menos metade de seus alunos não têm Internet em casa. A saída para eles é a de muitos brasileiros: a lan house, um estabelecimento onde se paga pelo uso do computador e da Internet conforme o tempo utilizado, que chega a custar R$ 1,00 a hora de conexão. É nela que a verdeira inclusão digital está acontecendo, segundo a especialista. “E dá gosto de ver por que quem não tem o computador 100% do tempo faz um uso ávido quando pode.”
Infraestrutura é a principal barreira

O crescimento que se vê hoje poderia ser muito maior na avaliação do analista de mídia do Ibope Nielsen Online, José Calazans, que vê na baixa penetração da Internet no País uma oportunidade de crescimento rápido. “A principal barreira é a infraestrutura de banda larga. Muitas pessoas de outras regiões (fora de São Paulo), mesmo que queiram e tenham renda suficiente para bancar o custo de uma conexão, não conseguem adquirir porque o serviço ainda não está disponível.” A falta de oferta também está relacionada à renda, porque, como explica Calazans, nas regiões das cidades em que o serviço é oferecido a renda média da população é mais alta.

Preço alto e falta de opções para contratar a conexão para a residência lota lan houses de bairro como a de Edson Mesquita, no Navegantes. “Aqui só tem uma operadora e sem a concorrência é preciso assinar uma franquia de telefone alta e pagar a banda larga, que é cara. É mais fácil dar de R$ 1,00 em um R$ 1,00 para o teu filho ir na lan house.” E o foco do negócio de Edson foge do estereótipo de casa de jogos online. O público dele procura um lugar tranquilo para estudar, pesquisar e conversar na Internet. “É um bairro de poder aquisitivo baixo e a Internet é uma realidade atual. A lan house faz parte dessa realidade.”

Regina, que concorda com a importância desses espaços públicos de acesso, ressalta a importância que o brasileiro de baixa renda dá ao uso da Internet. “Ela tem um significado muito forte, é vista como uma oportunidade de mudança de vida.”

Boa parte do público de Edson tem uma particularidade: possui computador em casa, mas não a Internet rápida, como Jackeline Amaral, que desistiu da conexão a rádio que mantém e vai direto utilizar as máquinas de Edson. Apesar de todos os computadores ocupados, Jackeline esperava ansiosa pela conexão enquanto conversava do o Diário Popular. A visita daquele dia era para saber o resultado de um concurso feito em Santa Catarina. A resposta da mudança de vida viria pela rede.

Tecnologia ajuda a disseminar o sinal móvel

Estender a rede física da Internet fixa é um problema e impede que muita gente possa conectar. Entretanto, a tecnologia móvel de conexão banda larga que chegou ao País no ano passado já se mostra como uma alternativa para as áreas sem cobertura por cabo ou ADSL. As operadoras não divulgam números desse crescimento – de planos fixos ou móveis -, mas tanto o analista de mídia quanto a pesquisadora apostam na ampliação do número de usuários a partir da tecnologia 3G, por exemplo.

Oferecida pelas operadoras de celular, a conexão que usa um modem pouco maior que um pen drive quando ligada ao computador pode ser acessada de qualquer ponto dentro da área de cobertura da rede. Por enquanto, o acesso ainda é caro, mas há uma tendência de popularização.

Um bem para a casa

Mesmo com as dificuldades, o brasileiro vê a Internet como um bem a ser mantido dentro de casa e isso é garantia de crescimento contínuo, na análise de Calazans. E é assim que vê a sua conexão o estudante de Jornalismo Diego Balinhas. Natural de Rio Grande, com 13 anos já usava acesso discado e, para se mudar para o Cassino, primeiro a Internet teve de ser instalada lá. Há nove meses morando em Pelotas, Diego tem hoje um plano de dez megabytes por segundo (mbps) – um dos mais rápidos disponíveis na cidade, que não passam de 20 mbps, e muito mais veloz que as populares velocidades entre 500 kbps e um mbps.

Por enquanto os dez mbps são uma “degustação” oferecida pela operadora desde o início de março e Diego paga pouco mais de um quinto do valor que o link realmente custa. Promoção conquistada depois de horas de negociação com o teleatendimento. Valeu a pena. Com essa conexão, em pouco mais de dez minutos ele baixa um filme a partir de sistemas de compartilhamento de arquivos. “A navegação é quase instantânea. Só demora o que depende dos outros, como quando o servidor de uma página está sobrecarregado. Em dia de listão, por exemplo, nem a melhor conexão consegue entrar no site da universidade.”

Essa quase instantaneidade é extremamente útil ao aprendizado, afirma Regina Trilho Otero. Segue o ritmo do pensamento e a pessoa não se dispersa. "Com o computador, quando se pensa em algo é só seguir o link do pensamento.” Por isso a ampliação dos pontos de acesso a banda larga – e consequentemente a expansão do número de pessoas que usam cada conexão – é tão importante. Enquanto não chega à todas as residências, os brasileiros com seu jeitinho tentam fazer parte da rede mundial de computadores. Para os especialistas, é uma questão de tempo para que os 62,3 milhões que têm acesso à Internet em algum ambiente se multipliquem.

Saúde colocou 13 mil pessoas na estrada em 2008

Publicação: domingo, 29 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Número corresponde ao total de pacientes que precisaram de atendimento em outras cidades e usaram o serviço de transporte do município

Da noite para o dia, literalmente, o radialista aposentado Janir Pinheiro acordou sem enxergar. Era uma crise de glaucoma agudo, que sem aviso prévio comprometeu a visão do morador do Fragata. Três dias depois Janir era operado na Santa Casa de Porto Alegre, por intermédio da Secretaria de Saúde. De lá para cá, já são quatro anos de tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 2.360 aplicações de laser, que, aos poucos, lhe devolvem a visão. O tratamento do glaucoma é um dos que não são oferecidos em Pelotas pelo SUS e Janir é uma das 13.470 pessoas que precisaram de atendimento médico fora de Pelotas em 2008.

O transporte para tratamento fora de domicílio é instituido pelo SUS como responsabilidade do município de origem. Os casos encaminhados a outras localidades representam 0,4% do total de atendimentos do sistema público em Pelotas, que mais recebe pacientes de fora do que os manda. Mesmo com o baixo índice, os custos com o transporte – que envolvem locomoção, diárias, passagens, contrato de alguns veículos e manutenção de outros - chegaram a R$ 1.512.000, o equivalente 1,5% do orçamento anual da Secretaria da Saúde, conforme dados levantados pela própria pasta.

“Tudo começa no posto de saúde”, afirma o secretário Francisco Isaías sobre como esse público chega aos hospitais e consultórios de Porto Alegre, Rio Grande, Bagé e Lajeado, em sua maioria. Depois de diagnosticado, o paciente que precisa de algum dos serviços não oferecidos pelo SUS na cidade é encaminhado pelo Departamento de Serviço Social da SMS, que faz o contato e agenda o atendimento.

“Todo dia sai um ônibus cheio às 3h30min”, comenta Janir, sobre sua experiência de consultas na capital, destino de 11.394 dos que consultaram fora no ano passado. Microônibus, vans e ambulâncias também atuam na condução, que eventualmente recebe o reforço de transporte aéreo, em casos extremos, como na enchente na Zona Sul há dois meses.

Os casos encaminhados para outras localidades em geral são os mais complicados, concentrados nas áreas de oncologia pediátrica, cardiologia neonatal, traumatologia pediátrica de alta complexidade, oftalmologia ligada à retina, traumatologia de coluna, transplantes de coração, fígado e rim, além de alguns casos de reabilitação de portadores de necessidades especiais, conforme o secretário. “Nós atendemos também muitas ordens judiciais, que indicam o acesso a determinado serviço em determinado lugar.”

Para diminuir o volume de atendimentos fora, Isaías afirma que a Prefeitura trabalha para qualificar os serviços de oncologia da FAU/UFPel e da Santa Casa, bem como o de oftalmologia da Beneficência Portuguesa, a fim de ampliar as possibilidades de atendimento. Na área da traumatologia um investimento de R$ 366 mil será feito numa parceria firmada entre a prefeitura e a Santa Casa, o que deverá criar 29 leitos em uma nova ala traumatológica. Economia a longo prazo para o município, mais conforto para os pacientes.

Números da Saúde em Pelotas (SUS) - 2008

Internações: 19.644
Consultas a especialistas: 46.494
Atendimentos de alta complexidade: 23.175
Atendimentos em ambulatório: 2.990.237
Casos atendidos em outros municípios: 13.470
Total: 3.093.020
Fonte: Secretaria de Saúde

A safra do camarão no divã

Publicação: terça-feira, 24 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Pesquisadores e autoridades são contra a mudança na lei que permitiria a captura do curstáceo após a avaliação do seu tamanho e não mais pelo calendário, a partir de 1º de fevereiro de cada ano

A mudança no calendário da safra do camarão no estuário da Lagoa dos Patos, acenada pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap) na semana passada, foi bem recebida entre os pescadores artesanais de Pelotas, mas com reservas por especialistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e da Universidade Federal de Rio Grande (Furg). A categoria defende que a abertura da safra dependa do tamanho alcançado pelo crustáceo e não mais seja fixa entre os meses de fevereiro e maio. Um estudo para analisar a viabilidade da proposta foi prometido na reunião de quarta-feira entre o ministro Altemir Gregolin e o deputado federal Fernando Marroni (PT), que acompanha o caso.

Os pescadores veem a flexibilização das datas da safra como um impasse que precisa ser resolvido, afirma o presidente do Sindicato dos Pescadores da Colônia Z-3, Nilmar Conceição. Atualmente a abertura oficial da safra ocorre no dia 1º de fevereiro, o que, segundo a categoria, prejudica os negócios de quem vive da pesca. É comum o camarão atingir o tamanho ideal, de nove centímetros, durante o período em que a captura está proibida. Enquanto para os pescadores isso significa ver toda uma safra ir embora, exemplifica Conceição, para o Ibama significa a manutenção da espécie pesqueira.

O chefe do escritório regional do instituto em Rio Grande, o oceanógrafo Sandro Klippel, explica que essa restrição garante ao camarão que atinge os nove centímetros nos meses anteriores a chance de sair do estuário para o mar – e consequentemente, a possibilidade de se reproduzir.

Retrocesso

Antes do sistema atual, de safra e defeso, a monitoração e abertura do período de pesca conforme o tamanho do camarão já foi praticada, diz o diretor do Instituto de Oceanografia da Furg, Fernando Dincao. Para ele, retomar o sistema que já se mostrou falho é um retrocesso. A dificuldade em se ter uma liberação segura está na variação do tamanho do camarão encontrado nos diferentes pontos da Lagoa, que está em estágios de desenvolvimento distintos em cada ponto do estuário. “Se fosse abrir por tamanho, em alguns lugares não se iria pescar nunca e em outros se teria camarão para pesca quase sempre”, explica, ao citar o monitoramento do crustáceo na Lagoa dos Patos já feito pela Furg.

Dincao ressalta ainda que com várias datas de abertura de safra deixaria de haver o pagamento do seguro-desemprego para os pescadores, que hoje o recebem durante o defeso, impacto social também apontado pela Seap.

Na avaliação do especialista, a abertura em função do tamanho do camarão provavelmente não se concretizará, pelo dano e a dificuldade de administração que isso traria. “Já não conseguem administrar bem do jeito que está”.

Para o Ibama, a fiscalização também se tornaria ainda mais complexa. “Nós queremos a preservação dos estoques, mas seria ainda mais difícil controlar a depredação. Imagine o tempo que nós levaríamos medindo camarão?”, comenta o responsável pela fiscalização no Estado, Fernando Falcão.

Um meio termo entre a preservação e a manutenção da atividade econômica é o cenário atual, na avaliação de Klippel. “Já favorecemos mais a pesca que a preservação. Abrir e fechar várias vezes por ano a safra só interessaria aos pescadores. Não teria vantagem para o camarão”. A consequência, segundo ele, seria o agravamento da diminuição do crustáceo, maior do que a já ocorre.

O que diz a Seap

Para a Seap, antes de se falar em flexibilização do calendário é preciso receber os resultados de um estudo que irá bem além da safra do camarão e abarcará toda a atividade pesqueira do estuário. “A proposta é fazer uma atualização do diagnóstico socioeconômico e ambiental da Lagoa dos Patos e, então, inovar nos processos de gestão”, explica o diretor de Ordenamento, Controle e Estatística da secretaria, Mauro Rufino. A ideia do estudo é fazer um mapeamento da pesca na região, inclusive o levantamento de quantos profissionais realmente atuam na área. A partir desses dados será possível discutir o calendário da safra.

Contudo, Mauro adianta que a reivindicação dos pescadores pela flexibilização, apesar de justa, pode ser inviável operacionalmente. O motivo é o mesmo apontado pelo pesquisador da Furg: as variadas taxas de crescimento do camarão nos diversos pontos da Lagoa. Uma das alternativas seria ter uma abertura em cada local, mas essa seria inviável para a fiscalização. “Mesmo assim queremos discutir e fazer uma construção conjunta, quem sabe apareçam outras ideias”, avalia o diretor.

No caminho da extinção

Publicação: sexta-feira, 20 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Substituída pela moeda, nota de R$1,00 transforma-se em peça de colecionador

Ver uma cédula de R$ 1,00 é cena cada vez mais rara desde que o Banco Central determinou, no iníco de 2006, o fim da fabricação dessas notas e a susbtituição gradual por moedas. O motivo é o custo e a praticidade, já que a vida útil de uma nota de alta circulação é bem menor que a de uma moeda. Por enquanto, a maior dificuldade provocada pela escassez do "beija-flor" tem sido no momento de efetuar depósitos bancários nos caixas eletrônicos. Os equipamentos não aceitam níqueis, o que atrasa aqueles que não querem perder tempo em bancos.

Na lotérica Agência Esporte, na rua Sete de Setembro, pela proximidade com a rede bancária é comum o pedido de troca de uma moeda por uma nota, mas atender o favor é difícil. “Se chegam a nós cinco notas de R$ 1,00 por dia é muito”, comenta Glaucia Barbosa, ao mostrar o caixa sem qualquer das verdinhas. As poucas estão em péssimo estado e são encaminhadas para o recolhimento.

Apesar de deteriorada pelo uso, a cédula mais baixa do real ainda é válida e deve ser aceita normalmente, já que a substituição foi programada para que o recolhimento ocorresse de forma natural, no ritmo em que a vida útil das notas chegasse ao fim. Conforme as notas rabiscadas, rasgadas ou coladas se inviabilizam para a circulação, são substituídas pelo Banco Central por moedas.

O Banco do Brasil, responsável pela distribuição do dinheiro no País, afirma por meio de sua assessoria que a única solução para os depósitos que precisam de R$ 1,00 para alcançar o valor exato é serem feitos diretamente no caixa. Está nos planos da rede bancária, em um futuro ainda distante, caixas eletrônicos que aceitem moedas e, quem sabe, até forneçam troco em depósitos. Enquanto isso, entrar na fila é a única solução.

Quando o problema mora na porta ao lado

Publicação: domingo, 15 de março de 2009 – jornal Diário Popular

As relações entre vizinhos nem sempre se apresentam amigáveis; em determinadas ocasiões as desavenças só são resolvidas na justiça

Barulho fora de hora, som alto, algazarra de crianças, vozes altas em brigas e namoros, batidas de saltos, latidos, miados, mal cheiro de animais de estimação, desrespeito ao espaço de estacionamento determinado para cada um, festas até altas horas no meio da semana. Nem sempre quem vive ao lado respeita as boas regras de convivência, e não se tem escolha: vizinho pode ser alguém passageiro ou um companheiro para toda a vida, e morar ao lado, em frente, em baixo ou em cima da casa de alguém pode se tornar um verdadeiro inferno. Quem passa por isso sabe bem. A receita para não cair nem provocar essa situação parece ser ter bom senso e respeito ao próximo, por mais difícil que isso pareça ser fazê-lo sem ferir a própria individualidade.

As desavenças entre vizinhos podem ficar tão sérias que os envolvidos preferem não se identificar para evitar represálias e agressões. No Fragata, um grupo de vizinhos há alguns anos se incomoda com uma boa ação que, para eles, passou dos limites e desde 2004 tornou a situação insuportável. Uma das vizinhas tem em casa uma expressiva quantidade de cachorros que foram recolhidos da rua – segundo os vizinhos incomodados, são pelo menos 70 animais, que a dona não confirma nem desmente –, mas o mau cheiro, as doenças, os latidos incessantes e os ataques a mordidas incomodam tanto os moradores da rua que a briga já chegou ao Ministério Público estadual. “Acho bonito defender os animais, mas isso está de mais”, reclama uma das vizinhas.

Entre os problemas já enfrentados na rua que tinha tudo para ser pacata, os incomodados relatam e mostram atestados médicos de uma infestação de sarna entre várias crianças e adultos e de mordidas, além de reclamarem do lixo gerado pelas fezes e os alimentos dos animais. Questionados sobre haverem tentado conversar antes de acionarem judicialmente a vizinha, eles são unânimes: “com ela não há diálogo”.

A responsável pelos animais afirma que se sente no direito de cuidar dos cachorros e questiona a idoneidade da vizinhança para fazer as reclamações, mas prefere não comentar nenhuma das acusações. O caso ainda tramita na justiça.

Os incomodados que se mudem?

Nas imobiliárias, chovem reclamações em sua maioria contra inquilinos, e grande parte por barulho. Quem não se emenda, além de receber advertências e multas, pode acabar despejado. A imobiliária Fuhro Souto, que também administra condomínios, explica que muitas vezes diante de tantas reclamações a única alternativa é o proprietário do imóvel pedir a desocupação. Chegam às administradoras de condomínios em Pelotas uma média de três reclamações por semana contra os atos de quem mora sob o mesmo telhado, todos em busca de uma mediação que devolva a paz, especialmente nos horários de descanso.

E quando o vizinho-proprietário é a dor de cabeça do vizinho-inquilino? “Nós temos um caso em que um inquilino reclama do barulho das crianças do vizinho, proprietário do apartamento em que mora, brincando à meia-noite ou às 2 da manhã. Ele está tão incomodado que quer sair do imóvel”, comenta a auxiliar administrativa dos condomínios da imobiliária, Carmen Viegas.

O problema, nesses casos, pode estar na rotatividade entre os inquilinos do prédio, um motivo a mais para que o vizinho seja tolerante com o próprio barulho e não mude essa realidade. Mas ter de abandonar a própria casa é uma medida extrema; o ideal seria chegar a um consenso. “Para viver em condomínio é necessário haver flexibilidade, porque praticamente se mora junto de todo mundo. O teu comportamento afeta o outro.”

Na promotoria de justiça criminal de Pelotas, ligada ao Ministério Público Estadual, chegaram em fevereiro aproximadamente 1.900 termos circunstanciados (TCs) relacionadas a brigas entre vizinhos, segundo estimativas, o que representa 40% do volume total de TCs no mês. A maioria está relacionada à perturbação do sossego alheio e perturbação da tranquilidade; a primeira é feita sem a intenção de incomodar o vizinho, já a segunda é uma ação intencional. E isso vai do som alto no meio da noite a coisas jogadas propositalmente no pátio ao lado.

Os responsáveis por mediar as disputas não estão livres de sofrer com seus próprios vizinhos. Na imobiliária Raphael, toda semana o telhado precisa de reparos por conta de garrafas atiradas do prédio contíguo. Fernando Vasconcelos relata que no início achavam que os projéteis eram uma forma de represália contra o barulho de um cão de guarda que mantinham, mas depois de retirado o cachorro, os lançamentos continuaram. “Já tentamos de tudo, até colocar uma câmera de segurança para identificar quem joga”. Sem sucesso nas negociações, a disputa também acabou na justiça.

Mas há quem prefira o diálogo com o colega de prédio. Uma moradora de um condomínio pequeno, que prefere não se identificar, resolveu conversar com o casal de vizinhos barulhentos antes de procurar a administradora do condomínio. E deu certo. “Eu parei eles no corredor e comentei que as brigas e o namoro estavam muito altos. Eles ficaram um pouco constrangidos, acharam um certo exagero, mas prometeram melhorar.”

Para fazer isso, foi preciso coragem de encarar a pessoa e tentar acabar com o incômodo. A maior parte dos condôminos prefere a intermediação da administradora do condomínio para evitar atritos, afinal, o convívio diário irá continuar, agradando ou não. “A empresa tem de ter a sensibilidade de ouvir as partes, mas a um mesmo tempo ser firme para resolver”, pondera Carmen.

A pesquisa perde, a história ganha

Publicação: segunda-feira, 9 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Pesquisar a região mais a fundo é o objetivo da saída do historiador, professor e escritor Mario Osorio Magalhães da Universidade Federal de Pelotas, depois de 34 anos dedicados ao ensino

Para os amigos e colegas, é um apaixonado. Uma paixão evidente pela história da cidade em que nasceu e por divulgar esse passado. Ao se falar de Mario Osorio Magalhães, seria impreciso atribuir-lhe uma ou outra profissão: historiador, escritor e professor se complementam. No ano em que completa 60 anos – 34 deles dedicados à docência na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) –, Mario se despede da sala de aula. Para marcar a saída, o Instituto de Ciências Humanas (ICH) oferece nesse semestre uma última oportunidade aos alunos de cursar sua disciplina História de Pelotas, de caráter optativo e dessa vez aberta a acadêmicos de todos os cursos da instituição.

O afastamento é justificado. Apesar do gosto pelo ensino, Mario quer se dedicar a outros projetos, e um já está programado para o futuro tempo livre. Nesse período a veia de historiador falará mais forte em uma nova pesquisa, um aprofundamento da realizada para a sua dissertação de mestrado em 1993, que originou o livro Opulência e cultura na província de São Pedro do Rio Grande do Sul: um estudo sobre a história de Pelotas (1860-1890). “É também a história da cidade, mas dessa vez vou falar de toda a região. A charqueada parece isolada, mas a ela estão ligados a pecuária de Jaguarão e o porto de Rio Grande, por exemplo”, anuncia.

O lado escritor é um dos mais conhecidos de Mario. Desde cedo, ainda quando estudante de Direito na UFPel, já colaborava com textos sobre história no Diário Popular. Entre suas publicações estão, além da história regional, poesia e história em quadrinhos – uma parceria com o cartunista André Macedo. O afastamento da coluna semanal que assinou no caderno Estilo entre 2001 e 2008 também faz parta da busca por tempo livre para produzir mais obras. “Quero ampliar a visão no aspecto mais regional, dentro do período que pesquiso, o século 19, e tentar uma resposta mais abrangente.” Tarefa que precisará de toda a concentração do autor.

A atividade de professor complementou o historiador. “No momento em que repassas o que foi pesquisado, percebes que os alunos têm perguntas que tu não farias. Isso me fazia pensar e encontrar outras respostas”, comenta. Escrever textos acessíveis e ter uma boa comunicação em entrevistas e palestras também é aperfeiçoamento lapidado em sala de aula. Para ele, o cuidado e a fundamentação científica não deixam de lado a fácil compreensão das mensagens passadas.

Os elogios sobre o Mario professor não são poupados. O ex-aluno Henrique Pires, hoje presidente do Instituto João Simões Lopes Neto, resume o que nota quem assiste as aulas de História de Pelotas: “Ele é apaixonado pela disciplina que ministra, e isso é fundamental em sala de aula.”
E quem convive com Mario elogia sua dedicação à história e o temperamento harmonioso de se conviver. Privilegiados os que terão uma última oportunidade de vê-lo em frente da classe.

Conheça mais

Mario Osorio Magalhães

Nasceu em 24 de novembro de 1949

Professor da Universidade Federal de Pelotas desde 1975, iniciou a carreira acadêmica como docente do curso de Direito, sua graduação original, e desde 1985 se dedica inteiramente à História. Tem mestrado na área desde 1993 e é autor de 15 livros, além dos muitos que organizou, prefaciou e contribuiu. Foi colaborador do Diário Popular em diversas ocasiões, e, entre 2001 e 2008, assinou uma coluna semanal sobre história no caderno Estilo. Na UFPel foi diretor do Instituto de Ciências Humanas por dois mandatos e chefe do Departamento de História.

Mario por amigos

“Conheci o Mario pelos escritos e depois tive o prazer de ser seu aluno no ICH. É uma pena que ele deixe a sala de aula, mas fico feliz porque sei que irá dedicar mais tempo para escrever. Ele é um grande parceiro do Instituto e mais que um pesquisador, é um divulgador da importância da obra de Simões nacionalmente. E os textos dele, pela fundamentação que têm, já salvaram diversas casas e prédios; suas colocações sempre são utilizadas nos processos de tombamento e restauração. Em sala de aula, fala da história com uma paixão que parece ter estado lá, junto.”
Henrique Pires, Presidente do Instituto João Simões Lopes Neto e do Conselho Municipal de Cultura


“A cidade conhece o Mario escritor e historiador. Nós conhecemos o Mario professor, uma pessoa harmonizadora e com um nível de conhecimento sobre a história de Pelotas que não há no departamento. Ele fez um relevante trabalho como orientador de diversos trabalhos importantes de alunos e como administrador do instituto.”
Fábio Cerqueira, diretor do Instituto de Ciências Humanas da UFPel (ICH)

“É uma pessoa com profundo conhecimento e amor pelas coisas de Pelotas. Sem dúvida é uma perda para o departamento. Temos um convívio de vários anos e ele é um ótimo amigo, uma pessoa boa de se tratar e de se trabalhar.”
Beatriz Loner, pesquisadora e professora do departamento de História do ICH.

“O Mario Osorio Magalhães tem feito um trabalho notável para Pelotas. Ele faz um resgate constante da nossa história, e é importante tanto o trabalho de pesquisa própria quanto o que faz como professor e orientador na UFPel. Temos muito orgulho de tê-lo como membro da Academia. Como escritor e historiador, ele reescreve a história, mas com fidelidade, e a torna muito acessível ao público.”
Zênia de Leon, presidente da Academia Pelotense de Letras

Muita chuva, bancas vazias

Publicação: segunda-feira, 9 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Feira livre sofre com pouca oferta e preços elevados depois da série de precipitações

A alface tem pesado na sacola de compras de Marlene Soares, que vai à feira todo sábado em busca do melhor produto ao menor preço. Mesmo na manhã ensolarada de sábado, as chuvas que assolaram a região em fevereiro são sentidas nos preços e na qualidade de hortaliças e frutas na feira livre da avenida Bento Gonçalves. A terra encharcada estraga a raiz das plantas, prejudica os tubérculos e para o crescimento dos vegetais. Resultado: mercadorias pequenas e bancas desabastecidas antes das 10h da manhã.

Quem produz e vende sente ainda mais o prejuízo. A feirante e produtora rural Maria Helena Hartwig, há 25 anos no ramo, afirma disponibilizar para venda metade do que costumava expor e o desabastecimento não era esperado. “Essa costuma ser uma época boa, de fartura.” Com pouca oferta, os preços subiram uma média de 25%.

Na mesma situação está Celso Bonow. Os 360 milímetros acumulados nas primeiras chuvas de fevereiro em sua propriedade deixaram um prejuízo estimado entre R$ 10 mil e R$ 12 mil, numa soma entre a produção que vende na feira e, principalmente, o fumo que planta. “Lavouras que iam ter uma produção grande pararam de crescer com a folha ainda pequena. Não tem como produzir com excesso de chuva.”

Os exemplos do prejuízo que a intempérie traz para produtores e consumidores começam nas bancas vazias no meio da manhã. “Um feirante chega a comprar do outro para atender os clientes”, comenta Bonow. Além da alface, a vilã da vez nos preços, o tempero verde indica os estragos da chuva. “Antes, se vendia com qualidade a R$0,50. Hoje, está R$0,70 e sem qualidade. Mas a gente tem que manter a família”, justifica o feirante.

Frente ao descontentamento de quem quer levar o melhor produto, Leomar Hartiwig negocia os descontos em sua banca; a alface muito pequena, de R$0,75 sai por R$0,50. “O cliente reclama, porque são coisas que está acostumado a comprar sempre baratinho”, exclama.

Domingo com cara de outono antecipado

Publicação: segunda-feira, 9 de março de 2009 – jornal Diário Popular

A chuva persistente durante todo o dia de ontem frustrou os planos de quem queria curtir o penúltimo fim de semana de verão e repetiu uma cena comum durante toda a estação. Os tradicionais locais de conversa, passeio e chimarrão ficaram vazios e o clima só foi perfeito para quem planejou ficar em casa. No litoral sul, entre Pelotas, Rio Grande e São Lourenço do Sul, o índice do acumulado de chuva do dia ficou entre 25 e 29 mm.

No que seria o dia de retomada da feira de artesanato, a avenida Bento Gonçalves era local de passagem rápida. Apenas os quero-queros eram vistos na praça da Dom Joaquim. O cinema virou um programa ainda mais convidativo, como fez Daniela Pires, que levou as filhas Maria Luisa, 9 anos, e Cecília, 8, para assistir a Marley e Eu. As três quase desistiram por causa da chuva, mas mantiveram o passeio já comum nos fins de semana. “Elas gostam e é uma das poucas opções que temos na cidade.”

O tempo instável foi bastante localizado na região de Pelotas. Conforme o instituto Metsul, a chuva foi resultado de uma frente fria de fraca atividade vinda do Uruguai e em deslocamento para o mar. O extremo sul e o litoral gaúcho foram especificamente atingidos, em contraste com outras localidades como Jaguarão e Bagé, onde o sol foi entrecortado apenas por nebulosidade.

Uma cidade cada vez mais vulnerável à chuva

Publicação: domingo, 1º de março de 2009 – jornal Diário Popular


Em uma hora e meia de chuva, as pistas da avenida Juscelino Kubitschek se transformaram em piscinas represadas pelos paralelepípedos do meio-fio e atrapalharam a passagem de motoristas, ciclistas e pedestres na tarde de quinta-feira. Na sexta-feira, a situação seria ainda pior. A cena se repete ali e em outros 19 pontos de Pelotas e um dos motivos é mais que conhecido: a geografia plana da cidade. Mas a essa condição se somam um conjunto de fatores que vão desde a impermeabilização do solo da cidade até a antiga e defasada estrutura de drenagem, passando pelo lixo jogado pelas ruas e a falta de um planejamento global para a retenção e escoamento das águas da chuva.

Evitar o acúmulo de águas nas vias de Pelotas depende diretamente do solo, conforme o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Mauricio Polidori. É a base em que está construída a cidade que tem, por natureza, o papel de reter e liberar, aos poucos, a água das chuvas típicas da região.

Para que isso ocorra, o contato da superfície com o subsolo deveria ser feito por canteiros ricos em vegetação, áreas livres e não-pavimentadas em meio à área urbana e medidas que iniciam pelas grandes drenagens, que previnem as enchentes, e vão até as medidas que permeiam o dia-a-dia como o recolhimento do lixo que entope o bueiros.

Para o diretor-presidente do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep), Ubiratan Anselmo, os alagamentos apenas diminuirão quando o plano municipal de drenagem for concluído. Atualmente, esse plano está em fase de contratação de pessoal especializado para realizar uma análise das condições da cidade e, a partir daí, traçar o projeto, o que deve ocorrer até julho. “Mas, a não ser que se consiga um recurso especial, essa obra vai ser feita aos poucos, com recurso próprio.”

A idéia, a princípio, é investir no sistema de canais da cidade, afirma Anselmo. Como Pelotas não tem galerias, as bocas-de-lobo têm ligação apenas com o sistema de travessias, que não dá conta do volume de água que cai sobre a área urbana. Ele acredita que, a partir do novo plano de drenagem, galerias para o escoamento das águas da chuva para os canais devem ser construídas no subterrâneo de determinadas vias.

Entretanto, esse sistema sofre críticas. “Tirar a água rapidamente, por canais e canaletes, é um conceito ultrapassado”, explica Polidori. “Nós não temos um rio que leve essas águas. Para onde as águas iriam escoar?” O ideal para a realidade de Pelotas, segundo o professor, é a drenagem feita pelo solo, com a saída lenta e bem distribuída das águas pluviais. Um escoamento rápido, com a geografia plana, favorece o alagamento.

Um dos canais da cidade é o do arroio Pepino, que divide a área que facilmente inunda em frente à oficina de Paulo Roberto Silveira. Ele vê da porta de casa um canal quase seco em meio a uma avenida alagada e sem saídas para o escoamento, tanto do acúmulo na pista antiga quanto no trecho recém asfaltado entre a avenida Domingos de Almeida e a rua Padre Anchieta. “O outro lado [a pista antiga] é uma armadilha. Em dez minutos a água sobe e os carros têm dificuldade para passar.” Para diminuir o transtorno do lado da nova pista, alguém quebrou parte do meio-fio que impede a ligação da rua com o canal do Pepino. “Quando quebraram, alguns vizinhos já estavam com água dentro de casa”, relata.

O problema, que não é exclusivo dessa avenida, muito tem a ver com a falta de estrutura das ruas, sem galerias ou com capacidade de drenagem natural pelo solo. Somam-se à falta de estrutura das ruas, as velhas casas de bombas que drenam a água da cidade, que são da década de 1960, oriundas das obras de macrodrenagem planejadas em função das grandes enchentes da década de 1950, como lembra Polidori.

Mas não é só no plano macro que medidas são necessárias. No nível micro, coisas simples como pátios pavimentados, sem ligação da superfície com o subsolo, lixo nos bueiros e a falta de canteiros e áreas arborizadas, colaboram para os alagamentos constantes, conforme o pesquisador.

Eterno dilema: asfalto ou paralelepípedo

Ubiratan Anselmo não vê no asfaltamento realizado em diversas vias da cidade em 2008 um dos causadores das grandes e pequenas inundações de fevereiro. “Os pontos registrados são os mesmos.” Mas, para Polidori, o asfalto é mais um fator que impede o contato da superfície com o subsolo. “O asfalto agrada pelo conforto, mas é o pior tipo de pavimento para a nossa realidade.”

Por Pelotas ser uma cidade totalmente plana, qualquer desnível, por menor que seja, é significativo, explica o professor. A cobertura asfáltica posta sobre o antigo pavimento, além de impermeabilizar e impedir a absorção da água pelo solo, diminui a diferença de altura entre a calçada e a rua, que poderia facilitar o escoamento. “Dez centímetros a menos em um meio-fio, que seja, já faz toda a diferença”.

Airbag poderá ser obrigatório até 2014

Publicação: domingo, 1º de março de 2009 - jornal Diário Popular

Câmara dos Deputados aprovou emenda ao Código Brasileiro de Trânsito que toma o dispositivo obrigatório para o condutor e passageiro dianteiro em todos os veículos do País

Um acidente de trânsito é um drama não só para as vítimas e suas famílias, mas também para o sistema de saúde do País. Com cada pessoa hospitalizada por conta de acidentes nas ruas e estradas são gastos em torno de R$ 14 mil. Para diminuir o número de mortes e lesões, a Câmara dos Deputados aprovou recentemente uma emenda ao Código Brasileiro de Trânsito que torna obrigatório o airbag para o condutor e o passageiro dianteiro em todos os carros em uso no Brasil a partir de 2014. Especialistas veem a medida de forma positiva.

A proposta, que teve origem no Senado, tramita desde 2004, e agora aguarda apenas a sanção do presidente Lula. Atualmente mais comum em carros importados ou de luxo, o airbag passará a ser item de série até mesmo para carros populares. Hoje poucos são os modelos 1.0 que oferecem o opcional; quando oferecem, o investimento fica em torno de R$3 mil, já que junto ao dispositivo de proteção um pacote de conforto e funcionalidade precisa ser adquirido. Se sancionada pela presidência, a medida passará a valer para os veículos fabricados a partir de 2014, no caso de o projeto de fabricação já existir. No caso de novos projetos automotivos, o airbag deve estar presente até 2012.

“No Brasil são 42 mil mortes por ano em acidentes de trânsito, e sobre as lesões não se têm a estatística. Essa medida vem em favor da vida”, avalia o instrutor de transporte e sargento da Brigada Militar, Gilson Caldas. Para ele, o item é de suma importância, apesar de não estar entre as prioridades na compra de um veículo. “Muitas vezes, pelo valor, se prefere ter um ar-condicionado a um airbag.”

O professor da Universidade Federal de Pelotas e médico traumatologista, José Raymundo, está entre os que já confiam no airbag, e não compra carro sem a proteção. “É como o seguro. Se espera não precisar usar, mas é necessário.” O médico afirma que, depois do cinto de segurança, esse é o item mais importante para garantir a sobrevida de quem se envolve em um acidente e é recomendado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.

Mesmo em batidas ou acidentes menos graves, em que não há morte, a face, o crânio e o tórax estão expostos a lesões e traumas. “E por menor que seja o trauma, a pessoa passará pelo menos um mês envolvida com a recuperação, quando não ficam sequelas irreversíveis.” Raymundo entende ser financeira e não cultural a resistência do brasileiro em adquirir o opcional de fábrica. “Mas ele é muito importante. A salvação pode estar aí.”

O impacto do equipamento

Conforme a fabricante de airbags TRW, que atua no Brasil, em caso de acidente o airbag reduz 14% das mortes de condutores e 11% das mortes de passageiros do banco dianteiro. E os índices de prevenção contra lesões é ainda maior.

Número de mortes em acidentes por ano no País – 42 mil

Redução de 14% das mortes de condutores
Redução de 11% das mortes de passageiros do banco dianteiro
Redução de 85% dos danos de choque de cabeça contra o veículo
A combinação cinto + airbag salva ainda mais:
Redução de 59% do risco de lesões moderadas no tórax
Redução de 45% das lesões moderadas nos membros superiores

Onda vermelha na Bento Gonçalves

Publicação: segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009 - jornal Diário Popular

Falta de sincronia dos semáforos localizados na via símbolo de Pelotas provoca o arranca-anda-para de veículos que irrita quem precisa vencer os 13 cruzamentos entre as ruas Almirante Barroso e Marcílio Dias


Atravessar a avenida Bento Gonçalves de ponta a ponta pode ser um desafio à paciência de qualquer motorista, não importa o dia da semana. Dos 13 cruzamentos entre as ruas Almirante Barroso e Marcílio Dias, dez têm semáforos e a maior parte deles o condutor vê fechado ao chegar no fim da quadra.

Em um meio-dia calmo, durante as férias de verão e sem o movimento de saída das escolas, atravessar a Bento no sentido Barroso-Marcílio Dias leva ao menos sete minutos. No sentido contrário, o mesmo trecho pode ser feito em cinco minutos. O arranca-anda-para em cada quadra não permite que o motorista passe da terceira marcha, e dificilmente é possível alcançar mais que os 35 ou 40 quilômetros por hora (km/h) circulando pela direita, em uma via na qual o limite é 60 km/h.

No ponto de táxi da esquina das ruas General Netto e Osório, a preocupação dos taxistas Antônio Celso Nunes e José Francisco Borges é com o horário dos passageiros, especialmente os que vão para a rodoviária. Clientes com pressa veem nos sinais vermelhos uma possibilidade de perder a viagem marcada. "A ida é um horror, os sinais são desencontrados. Na volta, se pega vários sinais verdes e em ruas como a Deodoro se anda bem", comenta Nunes.

A dificuldade de locomoção na Bento Gonçalves é atribuída pela Secretaria de Segurança, Transporte e Trânsito (SSTT) à característica da via, pouco espaçosa para o volume de veículos que recebe e com muitos cruzamentos, além de ser amplamente utilizada como espaço de lazer - o que gera a característica lentidão da faixa da esquerda. Para o secretário Jacques Reydams, a melhor alternativa é evitar a avenida sempre que possível.

Entretanto, os problemas com os repetidos sinais vermelhos são reconhecidos. "Talvez seja o caso de repensar a programação dos semáforos", comenta Reydams. Para isso, será necessário atualizar os dados de fluxos de veículos para melhorar a sincronia. A dificuldade em manter os dados da via atualizados está na falta de pessoal para realizar a contagem dos carros, que analisa o tréfego em todo o período diurno e gera as estatísticas que baseiam as programações.

Sinal queimado

À falta de sincronia, somam-se lâmpadas quebradas em sinaleiras a todo lado. Resultado de um lote defeituoso fornecido à prefeitura e da vedação precária das sinaleiras, pouco protegidas de chuva e vento. Sem contar as quedas de luz, que colocam os sinais em amarelo piscante, medida de segurança automática para que não queimem.

Exemplo de fluidez

Se na avenida Bento Gonçalves o vermelho é a cor predominante, uma onda de sinais verdes permitem agilidade no trânsito da Marechal Deodoro. No trecho entre Bento Gonçalves e Tiradentes, dos 11 cruzamentos, cinco têm sinaleiras. Depois de um sinal fechado na esquina com a Voluntários da Pátria, a reportagem do Diário Popular seguiu por uma sequência de passagens livres nas sinaleiras da General Neto, Marechal Floriano, Lobo da Costa e Tiradentes. Foram apenas dois minutos para andar 11 quadras, cinco a menos do que se leva para percorrer a mesma distância pela avenida.

A Marechal Floriano, em pleno centro da cidade, é outro exemplo de que o trânsito pode fluir. Entre as praças Coronel Pedro Osório e Vinte de Setembro são oito sinaleiras distribuindo o trânsito de dez cruzamentos. O trecho pôde ser percorrido em três minutos, com apenas três paradas obrigatórias: nas ruas Félix da Cunha, General Osório e Marcílio Dias. Entre elas, sequências de sinais verdes desafogam os arredores do Calçadão e facilitam o acesso ao bairro Fragata e à saída para Rio Grande.

Nessas vias, os semáforos trabalham de forma coordenada. A programação é pré-estabelecida, mas um semáforo mestre controla três sinaleiras, permitindo o dinamismo do tráfego, conforme explica o responsável pelos semáforos na SSTT, Francisco Cruz. Essa sincronização de sinais é conhecida como Onda Verde. A sequência de passagens livres favorecem o fluxo em uma via ao permitir que os veículos mantenham uma velocidade constante, sem necessidade de parar. Além de tempo, a onda economiza dinheiro, já que sem precisar arrancar repedidamente o consumo de combustível é reduzido. Medida também favorável ao meio ambiente.

Em diversas capitais, como Porto Alegre, a onda verde é controlada por sensores na pista que identificam o fluxo em tempo real e atualização a programação dos sinais verdes. Em Pelotas, essa tecnologia ainda é realidade distante. Por enquanto, a onda verde em alguns locais é programada a partir da contagem de fluxo e as estimativas para cada horário.

Muita confusão no caminho das compras

Publicação: domingo, 8 de fevereiro de 2009 - jornal Diário Popular

Problemas estruturais como a rede de esgoto e a fiação no Calçadão diminuem o brilho de um dos locais mais frequentados do centro da cidade


Mau cheiro, falta de espaço para circular em algumas quadras, piso irregular, caos na fiação exposta e sujeira, muita sujeira. Quem passa todo dia pelo Calçadão pode já ter se acostumado com os problemas, mas eles estão aí, atrapalhando lojistas, consumidores e turistas que visitam o centro comercial de Pelotas. A curto prazo, as modificações previstas pela prefeitura são paliativas. A longo prazo, um projeto de revitalização do trecho comercial da Andrade Neves, previsto desde 2006, deve começar a sair do papel no segundo semestre de 2009, e promete resolver de vez as queixas.

A sujeira espalhada pelo chão e o mau cheiro são os primeiros problemas apontados. “O cheiro de esgoto é impossível, e se sente sempre”, comenta o aposentado Carlos Alberto Borges, que frequenta o Calçadão diariamente. O odor, segundo a Secretaria de Urbanismo, vem das ligações irregulares do esgoto cloacal vindo das lojas na rede de esgoto pluvial, destinada ao escoamento de chuva.

O presidente do Sindilojas, Renzo Antonioli, soma a isso a sujeira que se acumula nos bueiros. “São verdadeiros depósitos de lixo e eu nunca vejo ser feito uma limpeza nos bueiros.” Ele alega que são despejados nas galerias até mesmo os dejetos dos alimentos vendidos por ambulantes. Já os papéis, embalagens e outros materiais jogados no chão não dependem apenas da limpeza contratada pela prefeitura. “Ninguém pode limpar durante 24h. A população às vezes não ajuda”, comenta Antonioli.

As bancas de vendedores ambulantes também são outro ponto de discórdia no centro da cidade. As áreas mais críticas são os trechos da Marechal Floriano entre o Calçadão e a General Osório, e da Andrade Neves, entre Marechal Floriano e Lobo da Costa. Com os ambulantes na calçada, o espaço para locomoção dos pedestres e a visualização das vitrines ficam prejudicadas. “Os camelôs deveriam descer para o camelódromo. Eles precisam trabalhar, mas não em cima da gente”, avalia a consumidora Fabiane Machado.

A idéia da prefeitura é fazer justamente isso. Mas para transferir as bancas que hoje estão no centro antes será necessário começar – e concluir – as obras de ampliação do camelódromo da praça Cypriano Barcellos. Enquanto isso não acontece, o plano da Secretaria de Urbanismo é reorganizar os ambulantes na Marechal Floriano. Conforme o secretário Luciano Oleiro, a faixa de estacionamento será transferida da esquerda, onde está, para a direita. As bancas irão descer da calçada para uma área reservada na faixa da direita, e o trânsito será deslocado para o outro lado. Na Andrade Neves, a idéia é deslocar as bancas em direção ao centro da via, para liberar o espaço para os pedestres.

Além de dificultar o fluxo, a presença dos camelôs é um problema para os lojistas, que têm as vitrines bloqueadas pelas bancas. Para ganhar atenção, os produtos das lojas acabam também na calçada, reduzindo ainda mais o espaço. “É uma concorrência desleal e uma situação provocadora. Eu não tenho como, hoje, pedir para um associado recolher os produtos. Quando as calçadas estiverem livres, se a prefeitura quiser nossa ajuda para isso, faremos com prazer”, afirma o presidente do Sindilojas.

Reforma do espaço custará R$ 2,5 milhões

Quem olhar para baixo verá remendos de cimento no lugar das lajotas quebradas; ao olhar para cima, postes apinhados de fios emaranhados poluem o visual. A solução definitiva para esses problemas deverá vir apenas com a realização de uma obra que pretende recuperar a estrutura do Calçadão. A reforma, orçada em R$2,5 milhões e com recursos que virão do Banco Mundial, deve começar no último trimestre de 2009, segundo a Unidade Gestora de Projetos (UGP), da Secretaria de Urbanismo. A reforma será bem-vinda não só pelos usuários, mas também pelos lojistas que, atualmente, têm as vendas prejudicadas pela situação do Calçadão, segundo Antonioli.

As mudanças começarão com o aterramento dos fios, que irão para o subsolo e eliminarão os postes atuais, os quais serão trocados por iluminação de praça. A rede de esgoto deve ser refeita, e as ligações de esgoto cloacal das lojas regularizadas, liberando o esgoto pluvial para sua função e eliminando o mau cheiro constante.

Em sequência, o piso deve ser todo refeito, sobre uma nova base, mais resistente para prevenir o desprendimento dos ladrilhos. Para finalizar, todo o mobiliário urbano (bancos, lixeiras etc.) será trocado, e os canteiros serão modificados a fim de melhorar a acessibilidade do local. Para que aconteça a mudança dos camelôs no novo espaço durante as obras, o assistente técnico da UGP Raul Odone explica que as duas obras, no camelódromo e no Calçadão, devem andar juntas, para que não haja conflitos. E o secretário de urbanismo alerta: se hoje a fiscalização age para que novos ambulantes não se instalem no Calçadão, no futuro a fiscalização irá trabalhar para impedir que outros tomem o local.