Saúde colocou 13 mil pessoas na estrada em 2008

Publicação: domingo, 29 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Número corresponde ao total de pacientes que precisaram de atendimento em outras cidades e usaram o serviço de transporte do município

Da noite para o dia, literalmente, o radialista aposentado Janir Pinheiro acordou sem enxergar. Era uma crise de glaucoma agudo, que sem aviso prévio comprometeu a visão do morador do Fragata. Três dias depois Janir era operado na Santa Casa de Porto Alegre, por intermédio da Secretaria de Saúde. De lá para cá, já são quatro anos de tratamento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e 2.360 aplicações de laser, que, aos poucos, lhe devolvem a visão. O tratamento do glaucoma é um dos que não são oferecidos em Pelotas pelo SUS e Janir é uma das 13.470 pessoas que precisaram de atendimento médico fora de Pelotas em 2008.

O transporte para tratamento fora de domicílio é instituido pelo SUS como responsabilidade do município de origem. Os casos encaminhados a outras localidades representam 0,4% do total de atendimentos do sistema público em Pelotas, que mais recebe pacientes de fora do que os manda. Mesmo com o baixo índice, os custos com o transporte – que envolvem locomoção, diárias, passagens, contrato de alguns veículos e manutenção de outros - chegaram a R$ 1.512.000, o equivalente 1,5% do orçamento anual da Secretaria da Saúde, conforme dados levantados pela própria pasta.

“Tudo começa no posto de saúde”, afirma o secretário Francisco Isaías sobre como esse público chega aos hospitais e consultórios de Porto Alegre, Rio Grande, Bagé e Lajeado, em sua maioria. Depois de diagnosticado, o paciente que precisa de algum dos serviços não oferecidos pelo SUS na cidade é encaminhado pelo Departamento de Serviço Social da SMS, que faz o contato e agenda o atendimento.

“Todo dia sai um ônibus cheio às 3h30min”, comenta Janir, sobre sua experiência de consultas na capital, destino de 11.394 dos que consultaram fora no ano passado. Microônibus, vans e ambulâncias também atuam na condução, que eventualmente recebe o reforço de transporte aéreo, em casos extremos, como na enchente na Zona Sul há dois meses.

Os casos encaminhados para outras localidades em geral são os mais complicados, concentrados nas áreas de oncologia pediátrica, cardiologia neonatal, traumatologia pediátrica de alta complexidade, oftalmologia ligada à retina, traumatologia de coluna, transplantes de coração, fígado e rim, além de alguns casos de reabilitação de portadores de necessidades especiais, conforme o secretário. “Nós atendemos também muitas ordens judiciais, que indicam o acesso a determinado serviço em determinado lugar.”

Para diminuir o volume de atendimentos fora, Isaías afirma que a Prefeitura trabalha para qualificar os serviços de oncologia da FAU/UFPel e da Santa Casa, bem como o de oftalmologia da Beneficência Portuguesa, a fim de ampliar as possibilidades de atendimento. Na área da traumatologia um investimento de R$ 366 mil será feito numa parceria firmada entre a prefeitura e a Santa Casa, o que deverá criar 29 leitos em uma nova ala traumatológica. Economia a longo prazo para o município, mais conforto para os pacientes.

Números da Saúde em Pelotas (SUS) - 2008

Internações: 19.644
Consultas a especialistas: 46.494
Atendimentos de alta complexidade: 23.175
Atendimentos em ambulatório: 2.990.237
Casos atendidos em outros municípios: 13.470
Total: 3.093.020
Fonte: Secretaria de Saúde

A safra do camarão no divã

Publicação: terça-feira, 24 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Pesquisadores e autoridades são contra a mudança na lei que permitiria a captura do curstáceo após a avaliação do seu tamanho e não mais pelo calendário, a partir de 1º de fevereiro de cada ano

A mudança no calendário da safra do camarão no estuário da Lagoa dos Patos, acenada pela Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca (Seap) na semana passada, foi bem recebida entre os pescadores artesanais de Pelotas, mas com reservas por especialistas do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e da Universidade Federal de Rio Grande (Furg). A categoria defende que a abertura da safra dependa do tamanho alcançado pelo crustáceo e não mais seja fixa entre os meses de fevereiro e maio. Um estudo para analisar a viabilidade da proposta foi prometido na reunião de quarta-feira entre o ministro Altemir Gregolin e o deputado federal Fernando Marroni (PT), que acompanha o caso.

Os pescadores veem a flexibilização das datas da safra como um impasse que precisa ser resolvido, afirma o presidente do Sindicato dos Pescadores da Colônia Z-3, Nilmar Conceição. Atualmente a abertura oficial da safra ocorre no dia 1º de fevereiro, o que, segundo a categoria, prejudica os negócios de quem vive da pesca. É comum o camarão atingir o tamanho ideal, de nove centímetros, durante o período em que a captura está proibida. Enquanto para os pescadores isso significa ver toda uma safra ir embora, exemplifica Conceição, para o Ibama significa a manutenção da espécie pesqueira.

O chefe do escritório regional do instituto em Rio Grande, o oceanógrafo Sandro Klippel, explica que essa restrição garante ao camarão que atinge os nove centímetros nos meses anteriores a chance de sair do estuário para o mar – e consequentemente, a possibilidade de se reproduzir.

Retrocesso

Antes do sistema atual, de safra e defeso, a monitoração e abertura do período de pesca conforme o tamanho do camarão já foi praticada, diz o diretor do Instituto de Oceanografia da Furg, Fernando Dincao. Para ele, retomar o sistema que já se mostrou falho é um retrocesso. A dificuldade em se ter uma liberação segura está na variação do tamanho do camarão encontrado nos diferentes pontos da Lagoa, que está em estágios de desenvolvimento distintos em cada ponto do estuário. “Se fosse abrir por tamanho, em alguns lugares não se iria pescar nunca e em outros se teria camarão para pesca quase sempre”, explica, ao citar o monitoramento do crustáceo na Lagoa dos Patos já feito pela Furg.

Dincao ressalta ainda que com várias datas de abertura de safra deixaria de haver o pagamento do seguro-desemprego para os pescadores, que hoje o recebem durante o defeso, impacto social também apontado pela Seap.

Na avaliação do especialista, a abertura em função do tamanho do camarão provavelmente não se concretizará, pelo dano e a dificuldade de administração que isso traria. “Já não conseguem administrar bem do jeito que está”.

Para o Ibama, a fiscalização também se tornaria ainda mais complexa. “Nós queremos a preservação dos estoques, mas seria ainda mais difícil controlar a depredação. Imagine o tempo que nós levaríamos medindo camarão?”, comenta o responsável pela fiscalização no Estado, Fernando Falcão.

Um meio termo entre a preservação e a manutenção da atividade econômica é o cenário atual, na avaliação de Klippel. “Já favorecemos mais a pesca que a preservação. Abrir e fechar várias vezes por ano a safra só interessaria aos pescadores. Não teria vantagem para o camarão”. A consequência, segundo ele, seria o agravamento da diminuição do crustáceo, maior do que a já ocorre.

O que diz a Seap

Para a Seap, antes de se falar em flexibilização do calendário é preciso receber os resultados de um estudo que irá bem além da safra do camarão e abarcará toda a atividade pesqueira do estuário. “A proposta é fazer uma atualização do diagnóstico socioeconômico e ambiental da Lagoa dos Patos e, então, inovar nos processos de gestão”, explica o diretor de Ordenamento, Controle e Estatística da secretaria, Mauro Rufino. A ideia do estudo é fazer um mapeamento da pesca na região, inclusive o levantamento de quantos profissionais realmente atuam na área. A partir desses dados será possível discutir o calendário da safra.

Contudo, Mauro adianta que a reivindicação dos pescadores pela flexibilização, apesar de justa, pode ser inviável operacionalmente. O motivo é o mesmo apontado pelo pesquisador da Furg: as variadas taxas de crescimento do camarão nos diversos pontos da Lagoa. Uma das alternativas seria ter uma abertura em cada local, mas essa seria inviável para a fiscalização. “Mesmo assim queremos discutir e fazer uma construção conjunta, quem sabe apareçam outras ideias”, avalia o diretor.

No caminho da extinção

Publicação: sexta-feira, 20 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Substituída pela moeda, nota de R$1,00 transforma-se em peça de colecionador

Ver uma cédula de R$ 1,00 é cena cada vez mais rara desde que o Banco Central determinou, no iníco de 2006, o fim da fabricação dessas notas e a susbtituição gradual por moedas. O motivo é o custo e a praticidade, já que a vida útil de uma nota de alta circulação é bem menor que a de uma moeda. Por enquanto, a maior dificuldade provocada pela escassez do "beija-flor" tem sido no momento de efetuar depósitos bancários nos caixas eletrônicos. Os equipamentos não aceitam níqueis, o que atrasa aqueles que não querem perder tempo em bancos.

Na lotérica Agência Esporte, na rua Sete de Setembro, pela proximidade com a rede bancária é comum o pedido de troca de uma moeda por uma nota, mas atender o favor é difícil. “Se chegam a nós cinco notas de R$ 1,00 por dia é muito”, comenta Glaucia Barbosa, ao mostrar o caixa sem qualquer das verdinhas. As poucas estão em péssimo estado e são encaminhadas para o recolhimento.

Apesar de deteriorada pelo uso, a cédula mais baixa do real ainda é válida e deve ser aceita normalmente, já que a substituição foi programada para que o recolhimento ocorresse de forma natural, no ritmo em que a vida útil das notas chegasse ao fim. Conforme as notas rabiscadas, rasgadas ou coladas se inviabilizam para a circulação, são substituídas pelo Banco Central por moedas.

O Banco do Brasil, responsável pela distribuição do dinheiro no País, afirma por meio de sua assessoria que a única solução para os depósitos que precisam de R$ 1,00 para alcançar o valor exato é serem feitos diretamente no caixa. Está nos planos da rede bancária, em um futuro ainda distante, caixas eletrônicos que aceitem moedas e, quem sabe, até forneçam troco em depósitos. Enquanto isso, entrar na fila é a única solução.

Quando o problema mora na porta ao lado

Publicação: domingo, 15 de março de 2009 – jornal Diário Popular

As relações entre vizinhos nem sempre se apresentam amigáveis; em determinadas ocasiões as desavenças só são resolvidas na justiça

Barulho fora de hora, som alto, algazarra de crianças, vozes altas em brigas e namoros, batidas de saltos, latidos, miados, mal cheiro de animais de estimação, desrespeito ao espaço de estacionamento determinado para cada um, festas até altas horas no meio da semana. Nem sempre quem vive ao lado respeita as boas regras de convivência, e não se tem escolha: vizinho pode ser alguém passageiro ou um companheiro para toda a vida, e morar ao lado, em frente, em baixo ou em cima da casa de alguém pode se tornar um verdadeiro inferno. Quem passa por isso sabe bem. A receita para não cair nem provocar essa situação parece ser ter bom senso e respeito ao próximo, por mais difícil que isso pareça ser fazê-lo sem ferir a própria individualidade.

As desavenças entre vizinhos podem ficar tão sérias que os envolvidos preferem não se identificar para evitar represálias e agressões. No Fragata, um grupo de vizinhos há alguns anos se incomoda com uma boa ação que, para eles, passou dos limites e desde 2004 tornou a situação insuportável. Uma das vizinhas tem em casa uma expressiva quantidade de cachorros que foram recolhidos da rua – segundo os vizinhos incomodados, são pelo menos 70 animais, que a dona não confirma nem desmente –, mas o mau cheiro, as doenças, os latidos incessantes e os ataques a mordidas incomodam tanto os moradores da rua que a briga já chegou ao Ministério Público estadual. “Acho bonito defender os animais, mas isso está de mais”, reclama uma das vizinhas.

Entre os problemas já enfrentados na rua que tinha tudo para ser pacata, os incomodados relatam e mostram atestados médicos de uma infestação de sarna entre várias crianças e adultos e de mordidas, além de reclamarem do lixo gerado pelas fezes e os alimentos dos animais. Questionados sobre haverem tentado conversar antes de acionarem judicialmente a vizinha, eles são unânimes: “com ela não há diálogo”.

A responsável pelos animais afirma que se sente no direito de cuidar dos cachorros e questiona a idoneidade da vizinhança para fazer as reclamações, mas prefere não comentar nenhuma das acusações. O caso ainda tramita na justiça.

Os incomodados que se mudem?

Nas imobiliárias, chovem reclamações em sua maioria contra inquilinos, e grande parte por barulho. Quem não se emenda, além de receber advertências e multas, pode acabar despejado. A imobiliária Fuhro Souto, que também administra condomínios, explica que muitas vezes diante de tantas reclamações a única alternativa é o proprietário do imóvel pedir a desocupação. Chegam às administradoras de condomínios em Pelotas uma média de três reclamações por semana contra os atos de quem mora sob o mesmo telhado, todos em busca de uma mediação que devolva a paz, especialmente nos horários de descanso.

E quando o vizinho-proprietário é a dor de cabeça do vizinho-inquilino? “Nós temos um caso em que um inquilino reclama do barulho das crianças do vizinho, proprietário do apartamento em que mora, brincando à meia-noite ou às 2 da manhã. Ele está tão incomodado que quer sair do imóvel”, comenta a auxiliar administrativa dos condomínios da imobiliária, Carmen Viegas.

O problema, nesses casos, pode estar na rotatividade entre os inquilinos do prédio, um motivo a mais para que o vizinho seja tolerante com o próprio barulho e não mude essa realidade. Mas ter de abandonar a própria casa é uma medida extrema; o ideal seria chegar a um consenso. “Para viver em condomínio é necessário haver flexibilidade, porque praticamente se mora junto de todo mundo. O teu comportamento afeta o outro.”

Na promotoria de justiça criminal de Pelotas, ligada ao Ministério Público Estadual, chegaram em fevereiro aproximadamente 1.900 termos circunstanciados (TCs) relacionadas a brigas entre vizinhos, segundo estimativas, o que representa 40% do volume total de TCs no mês. A maioria está relacionada à perturbação do sossego alheio e perturbação da tranquilidade; a primeira é feita sem a intenção de incomodar o vizinho, já a segunda é uma ação intencional. E isso vai do som alto no meio da noite a coisas jogadas propositalmente no pátio ao lado.

Os responsáveis por mediar as disputas não estão livres de sofrer com seus próprios vizinhos. Na imobiliária Raphael, toda semana o telhado precisa de reparos por conta de garrafas atiradas do prédio contíguo. Fernando Vasconcelos relata que no início achavam que os projéteis eram uma forma de represália contra o barulho de um cão de guarda que mantinham, mas depois de retirado o cachorro, os lançamentos continuaram. “Já tentamos de tudo, até colocar uma câmera de segurança para identificar quem joga”. Sem sucesso nas negociações, a disputa também acabou na justiça.

Mas há quem prefira o diálogo com o colega de prédio. Uma moradora de um condomínio pequeno, que prefere não se identificar, resolveu conversar com o casal de vizinhos barulhentos antes de procurar a administradora do condomínio. E deu certo. “Eu parei eles no corredor e comentei que as brigas e o namoro estavam muito altos. Eles ficaram um pouco constrangidos, acharam um certo exagero, mas prometeram melhorar.”

Para fazer isso, foi preciso coragem de encarar a pessoa e tentar acabar com o incômodo. A maior parte dos condôminos prefere a intermediação da administradora do condomínio para evitar atritos, afinal, o convívio diário irá continuar, agradando ou não. “A empresa tem de ter a sensibilidade de ouvir as partes, mas a um mesmo tempo ser firme para resolver”, pondera Carmen.

A pesquisa perde, a história ganha

Publicação: segunda-feira, 9 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Pesquisar a região mais a fundo é o objetivo da saída do historiador, professor e escritor Mario Osorio Magalhães da Universidade Federal de Pelotas, depois de 34 anos dedicados ao ensino

Para os amigos e colegas, é um apaixonado. Uma paixão evidente pela história da cidade em que nasceu e por divulgar esse passado. Ao se falar de Mario Osorio Magalhães, seria impreciso atribuir-lhe uma ou outra profissão: historiador, escritor e professor se complementam. No ano em que completa 60 anos – 34 deles dedicados à docência na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) –, Mario se despede da sala de aula. Para marcar a saída, o Instituto de Ciências Humanas (ICH) oferece nesse semestre uma última oportunidade aos alunos de cursar sua disciplina História de Pelotas, de caráter optativo e dessa vez aberta a acadêmicos de todos os cursos da instituição.

O afastamento é justificado. Apesar do gosto pelo ensino, Mario quer se dedicar a outros projetos, e um já está programado para o futuro tempo livre. Nesse período a veia de historiador falará mais forte em uma nova pesquisa, um aprofundamento da realizada para a sua dissertação de mestrado em 1993, que originou o livro Opulência e cultura na província de São Pedro do Rio Grande do Sul: um estudo sobre a história de Pelotas (1860-1890). “É também a história da cidade, mas dessa vez vou falar de toda a região. A charqueada parece isolada, mas a ela estão ligados a pecuária de Jaguarão e o porto de Rio Grande, por exemplo”, anuncia.

O lado escritor é um dos mais conhecidos de Mario. Desde cedo, ainda quando estudante de Direito na UFPel, já colaborava com textos sobre história no Diário Popular. Entre suas publicações estão, além da história regional, poesia e história em quadrinhos – uma parceria com o cartunista André Macedo. O afastamento da coluna semanal que assinou no caderno Estilo entre 2001 e 2008 também faz parta da busca por tempo livre para produzir mais obras. “Quero ampliar a visão no aspecto mais regional, dentro do período que pesquiso, o século 19, e tentar uma resposta mais abrangente.” Tarefa que precisará de toda a concentração do autor.

A atividade de professor complementou o historiador. “No momento em que repassas o que foi pesquisado, percebes que os alunos têm perguntas que tu não farias. Isso me fazia pensar e encontrar outras respostas”, comenta. Escrever textos acessíveis e ter uma boa comunicação em entrevistas e palestras também é aperfeiçoamento lapidado em sala de aula. Para ele, o cuidado e a fundamentação científica não deixam de lado a fácil compreensão das mensagens passadas.

Os elogios sobre o Mario professor não são poupados. O ex-aluno Henrique Pires, hoje presidente do Instituto João Simões Lopes Neto, resume o que nota quem assiste as aulas de História de Pelotas: “Ele é apaixonado pela disciplina que ministra, e isso é fundamental em sala de aula.”
E quem convive com Mario elogia sua dedicação à história e o temperamento harmonioso de se conviver. Privilegiados os que terão uma última oportunidade de vê-lo em frente da classe.

Conheça mais

Mario Osorio Magalhães

Nasceu em 24 de novembro de 1949

Professor da Universidade Federal de Pelotas desde 1975, iniciou a carreira acadêmica como docente do curso de Direito, sua graduação original, e desde 1985 se dedica inteiramente à História. Tem mestrado na área desde 1993 e é autor de 15 livros, além dos muitos que organizou, prefaciou e contribuiu. Foi colaborador do Diário Popular em diversas ocasiões, e, entre 2001 e 2008, assinou uma coluna semanal sobre história no caderno Estilo. Na UFPel foi diretor do Instituto de Ciências Humanas por dois mandatos e chefe do Departamento de História.

Mario por amigos

“Conheci o Mario pelos escritos e depois tive o prazer de ser seu aluno no ICH. É uma pena que ele deixe a sala de aula, mas fico feliz porque sei que irá dedicar mais tempo para escrever. Ele é um grande parceiro do Instituto e mais que um pesquisador, é um divulgador da importância da obra de Simões nacionalmente. E os textos dele, pela fundamentação que têm, já salvaram diversas casas e prédios; suas colocações sempre são utilizadas nos processos de tombamento e restauração. Em sala de aula, fala da história com uma paixão que parece ter estado lá, junto.”
Henrique Pires, Presidente do Instituto João Simões Lopes Neto e do Conselho Municipal de Cultura


“A cidade conhece o Mario escritor e historiador. Nós conhecemos o Mario professor, uma pessoa harmonizadora e com um nível de conhecimento sobre a história de Pelotas que não há no departamento. Ele fez um relevante trabalho como orientador de diversos trabalhos importantes de alunos e como administrador do instituto.”
Fábio Cerqueira, diretor do Instituto de Ciências Humanas da UFPel (ICH)

“É uma pessoa com profundo conhecimento e amor pelas coisas de Pelotas. Sem dúvida é uma perda para o departamento. Temos um convívio de vários anos e ele é um ótimo amigo, uma pessoa boa de se tratar e de se trabalhar.”
Beatriz Loner, pesquisadora e professora do departamento de História do ICH.

“O Mario Osorio Magalhães tem feito um trabalho notável para Pelotas. Ele faz um resgate constante da nossa história, e é importante tanto o trabalho de pesquisa própria quanto o que faz como professor e orientador na UFPel. Temos muito orgulho de tê-lo como membro da Academia. Como escritor e historiador, ele reescreve a história, mas com fidelidade, e a torna muito acessível ao público.”
Zênia de Leon, presidente da Academia Pelotense de Letras

Muita chuva, bancas vazias

Publicação: segunda-feira, 9 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Feira livre sofre com pouca oferta e preços elevados depois da série de precipitações

A alface tem pesado na sacola de compras de Marlene Soares, que vai à feira todo sábado em busca do melhor produto ao menor preço. Mesmo na manhã ensolarada de sábado, as chuvas que assolaram a região em fevereiro são sentidas nos preços e na qualidade de hortaliças e frutas na feira livre da avenida Bento Gonçalves. A terra encharcada estraga a raiz das plantas, prejudica os tubérculos e para o crescimento dos vegetais. Resultado: mercadorias pequenas e bancas desabastecidas antes das 10h da manhã.

Quem produz e vende sente ainda mais o prejuízo. A feirante e produtora rural Maria Helena Hartwig, há 25 anos no ramo, afirma disponibilizar para venda metade do que costumava expor e o desabastecimento não era esperado. “Essa costuma ser uma época boa, de fartura.” Com pouca oferta, os preços subiram uma média de 25%.

Na mesma situação está Celso Bonow. Os 360 milímetros acumulados nas primeiras chuvas de fevereiro em sua propriedade deixaram um prejuízo estimado entre R$ 10 mil e R$ 12 mil, numa soma entre a produção que vende na feira e, principalmente, o fumo que planta. “Lavouras que iam ter uma produção grande pararam de crescer com a folha ainda pequena. Não tem como produzir com excesso de chuva.”

Os exemplos do prejuízo que a intempérie traz para produtores e consumidores começam nas bancas vazias no meio da manhã. “Um feirante chega a comprar do outro para atender os clientes”, comenta Bonow. Além da alface, a vilã da vez nos preços, o tempero verde indica os estragos da chuva. “Antes, se vendia com qualidade a R$0,50. Hoje, está R$0,70 e sem qualidade. Mas a gente tem que manter a família”, justifica o feirante.

Frente ao descontentamento de quem quer levar o melhor produto, Leomar Hartiwig negocia os descontos em sua banca; a alface muito pequena, de R$0,75 sai por R$0,50. “O cliente reclama, porque são coisas que está acostumado a comprar sempre baratinho”, exclama.

Domingo com cara de outono antecipado

Publicação: segunda-feira, 9 de março de 2009 – jornal Diário Popular

A chuva persistente durante todo o dia de ontem frustrou os planos de quem queria curtir o penúltimo fim de semana de verão e repetiu uma cena comum durante toda a estação. Os tradicionais locais de conversa, passeio e chimarrão ficaram vazios e o clima só foi perfeito para quem planejou ficar em casa. No litoral sul, entre Pelotas, Rio Grande e São Lourenço do Sul, o índice do acumulado de chuva do dia ficou entre 25 e 29 mm.

No que seria o dia de retomada da feira de artesanato, a avenida Bento Gonçalves era local de passagem rápida. Apenas os quero-queros eram vistos na praça da Dom Joaquim. O cinema virou um programa ainda mais convidativo, como fez Daniela Pires, que levou as filhas Maria Luisa, 9 anos, e Cecília, 8, para assistir a Marley e Eu. As três quase desistiram por causa da chuva, mas mantiveram o passeio já comum nos fins de semana. “Elas gostam e é uma das poucas opções que temos na cidade.”

O tempo instável foi bastante localizado na região de Pelotas. Conforme o instituto Metsul, a chuva foi resultado de uma frente fria de fraca atividade vinda do Uruguai e em deslocamento para o mar. O extremo sul e o litoral gaúcho foram especificamente atingidos, em contraste com outras localidades como Jaguarão e Bagé, onde o sol foi entrecortado apenas por nebulosidade.

Uma cidade cada vez mais vulnerável à chuva

Publicação: domingo, 1º de março de 2009 – jornal Diário Popular


Em uma hora e meia de chuva, as pistas da avenida Juscelino Kubitschek se transformaram em piscinas represadas pelos paralelepípedos do meio-fio e atrapalharam a passagem de motoristas, ciclistas e pedestres na tarde de quinta-feira. Na sexta-feira, a situação seria ainda pior. A cena se repete ali e em outros 19 pontos de Pelotas e um dos motivos é mais que conhecido: a geografia plana da cidade. Mas a essa condição se somam um conjunto de fatores que vão desde a impermeabilização do solo da cidade até a antiga e defasada estrutura de drenagem, passando pelo lixo jogado pelas ruas e a falta de um planejamento global para a retenção e escoamento das águas da chuva.

Evitar o acúmulo de águas nas vias de Pelotas depende diretamente do solo, conforme o professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), Mauricio Polidori. É a base em que está construída a cidade que tem, por natureza, o papel de reter e liberar, aos poucos, a água das chuvas típicas da região.

Para que isso ocorra, o contato da superfície com o subsolo deveria ser feito por canteiros ricos em vegetação, áreas livres e não-pavimentadas em meio à área urbana e medidas que iniciam pelas grandes drenagens, que previnem as enchentes, e vão até as medidas que permeiam o dia-a-dia como o recolhimento do lixo que entope o bueiros.

Para o diretor-presidente do Serviço Autônomo de Saneamento de Pelotas (Sanep), Ubiratan Anselmo, os alagamentos apenas diminuirão quando o plano municipal de drenagem for concluído. Atualmente, esse plano está em fase de contratação de pessoal especializado para realizar uma análise das condições da cidade e, a partir daí, traçar o projeto, o que deve ocorrer até julho. “Mas, a não ser que se consiga um recurso especial, essa obra vai ser feita aos poucos, com recurso próprio.”

A idéia, a princípio, é investir no sistema de canais da cidade, afirma Anselmo. Como Pelotas não tem galerias, as bocas-de-lobo têm ligação apenas com o sistema de travessias, que não dá conta do volume de água que cai sobre a área urbana. Ele acredita que, a partir do novo plano de drenagem, galerias para o escoamento das águas da chuva para os canais devem ser construídas no subterrâneo de determinadas vias.

Entretanto, esse sistema sofre críticas. “Tirar a água rapidamente, por canais e canaletes, é um conceito ultrapassado”, explica Polidori. “Nós não temos um rio que leve essas águas. Para onde as águas iriam escoar?” O ideal para a realidade de Pelotas, segundo o professor, é a drenagem feita pelo solo, com a saída lenta e bem distribuída das águas pluviais. Um escoamento rápido, com a geografia plana, favorece o alagamento.

Um dos canais da cidade é o do arroio Pepino, que divide a área que facilmente inunda em frente à oficina de Paulo Roberto Silveira. Ele vê da porta de casa um canal quase seco em meio a uma avenida alagada e sem saídas para o escoamento, tanto do acúmulo na pista antiga quanto no trecho recém asfaltado entre a avenida Domingos de Almeida e a rua Padre Anchieta. “O outro lado [a pista antiga] é uma armadilha. Em dez minutos a água sobe e os carros têm dificuldade para passar.” Para diminuir o transtorno do lado da nova pista, alguém quebrou parte do meio-fio que impede a ligação da rua com o canal do Pepino. “Quando quebraram, alguns vizinhos já estavam com água dentro de casa”, relata.

O problema, que não é exclusivo dessa avenida, muito tem a ver com a falta de estrutura das ruas, sem galerias ou com capacidade de drenagem natural pelo solo. Somam-se à falta de estrutura das ruas, as velhas casas de bombas que drenam a água da cidade, que são da década de 1960, oriundas das obras de macrodrenagem planejadas em função das grandes enchentes da década de 1950, como lembra Polidori.

Mas não é só no plano macro que medidas são necessárias. No nível micro, coisas simples como pátios pavimentados, sem ligação da superfície com o subsolo, lixo nos bueiros e a falta de canteiros e áreas arborizadas, colaboram para os alagamentos constantes, conforme o pesquisador.

Eterno dilema: asfalto ou paralelepípedo

Ubiratan Anselmo não vê no asfaltamento realizado em diversas vias da cidade em 2008 um dos causadores das grandes e pequenas inundações de fevereiro. “Os pontos registrados são os mesmos.” Mas, para Polidori, o asfalto é mais um fator que impede o contato da superfície com o subsolo. “O asfalto agrada pelo conforto, mas é o pior tipo de pavimento para a nossa realidade.”

Por Pelotas ser uma cidade totalmente plana, qualquer desnível, por menor que seja, é significativo, explica o professor. A cobertura asfáltica posta sobre o antigo pavimento, além de impermeabilizar e impedir a absorção da água pelo solo, diminui a diferença de altura entre a calçada e a rua, que poderia facilitar o escoamento. “Dez centímetros a menos em um meio-fio, que seja, já faz toda a diferença”.

Airbag poderá ser obrigatório até 2014

Publicação: domingo, 1º de março de 2009 - jornal Diário Popular

Câmara dos Deputados aprovou emenda ao Código Brasileiro de Trânsito que toma o dispositivo obrigatório para o condutor e passageiro dianteiro em todos os veículos do País

Um acidente de trânsito é um drama não só para as vítimas e suas famílias, mas também para o sistema de saúde do País. Com cada pessoa hospitalizada por conta de acidentes nas ruas e estradas são gastos em torno de R$ 14 mil. Para diminuir o número de mortes e lesões, a Câmara dos Deputados aprovou recentemente uma emenda ao Código Brasileiro de Trânsito que torna obrigatório o airbag para o condutor e o passageiro dianteiro em todos os carros em uso no Brasil a partir de 2014. Especialistas veem a medida de forma positiva.

A proposta, que teve origem no Senado, tramita desde 2004, e agora aguarda apenas a sanção do presidente Lula. Atualmente mais comum em carros importados ou de luxo, o airbag passará a ser item de série até mesmo para carros populares. Hoje poucos são os modelos 1.0 que oferecem o opcional; quando oferecem, o investimento fica em torno de R$3 mil, já que junto ao dispositivo de proteção um pacote de conforto e funcionalidade precisa ser adquirido. Se sancionada pela presidência, a medida passará a valer para os veículos fabricados a partir de 2014, no caso de o projeto de fabricação já existir. No caso de novos projetos automotivos, o airbag deve estar presente até 2012.

“No Brasil são 42 mil mortes por ano em acidentes de trânsito, e sobre as lesões não se têm a estatística. Essa medida vem em favor da vida”, avalia o instrutor de transporte e sargento da Brigada Militar, Gilson Caldas. Para ele, o item é de suma importância, apesar de não estar entre as prioridades na compra de um veículo. “Muitas vezes, pelo valor, se prefere ter um ar-condicionado a um airbag.”

O professor da Universidade Federal de Pelotas e médico traumatologista, José Raymundo, está entre os que já confiam no airbag, e não compra carro sem a proteção. “É como o seguro. Se espera não precisar usar, mas é necessário.” O médico afirma que, depois do cinto de segurança, esse é o item mais importante para garantir a sobrevida de quem se envolve em um acidente e é recomendado pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia.

Mesmo em batidas ou acidentes menos graves, em que não há morte, a face, o crânio e o tórax estão expostos a lesões e traumas. “E por menor que seja o trauma, a pessoa passará pelo menos um mês envolvida com a recuperação, quando não ficam sequelas irreversíveis.” Raymundo entende ser financeira e não cultural a resistência do brasileiro em adquirir o opcional de fábrica. “Mas ele é muito importante. A salvação pode estar aí.”

O impacto do equipamento

Conforme a fabricante de airbags TRW, que atua no Brasil, em caso de acidente o airbag reduz 14% das mortes de condutores e 11% das mortes de passageiros do banco dianteiro. E os índices de prevenção contra lesões é ainda maior.

Número de mortes em acidentes por ano no País – 42 mil

Redução de 14% das mortes de condutores
Redução de 11% das mortes de passageiros do banco dianteiro
Redução de 85% dos danos de choque de cabeça contra o veículo
A combinação cinto + airbag salva ainda mais:
Redução de 59% do risco de lesões moderadas no tórax
Redução de 45% das lesões moderadas nos membros superiores