A pesquisa perde, a história ganha

Publicação: segunda-feira, 9 de março de 2009 – jornal Diário Popular

Pesquisar a região mais a fundo é o objetivo da saída do historiador, professor e escritor Mario Osorio Magalhães da Universidade Federal de Pelotas, depois de 34 anos dedicados ao ensino

Para os amigos e colegas, é um apaixonado. Uma paixão evidente pela história da cidade em que nasceu e por divulgar esse passado. Ao se falar de Mario Osorio Magalhães, seria impreciso atribuir-lhe uma ou outra profissão: historiador, escritor e professor se complementam. No ano em que completa 60 anos – 34 deles dedicados à docência na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) –, Mario se despede da sala de aula. Para marcar a saída, o Instituto de Ciências Humanas (ICH) oferece nesse semestre uma última oportunidade aos alunos de cursar sua disciplina História de Pelotas, de caráter optativo e dessa vez aberta a acadêmicos de todos os cursos da instituição.

O afastamento é justificado. Apesar do gosto pelo ensino, Mario quer se dedicar a outros projetos, e um já está programado para o futuro tempo livre. Nesse período a veia de historiador falará mais forte em uma nova pesquisa, um aprofundamento da realizada para a sua dissertação de mestrado em 1993, que originou o livro Opulência e cultura na província de São Pedro do Rio Grande do Sul: um estudo sobre a história de Pelotas (1860-1890). “É também a história da cidade, mas dessa vez vou falar de toda a região. A charqueada parece isolada, mas a ela estão ligados a pecuária de Jaguarão e o porto de Rio Grande, por exemplo”, anuncia.

O lado escritor é um dos mais conhecidos de Mario. Desde cedo, ainda quando estudante de Direito na UFPel, já colaborava com textos sobre história no Diário Popular. Entre suas publicações estão, além da história regional, poesia e história em quadrinhos – uma parceria com o cartunista André Macedo. O afastamento da coluna semanal que assinou no caderno Estilo entre 2001 e 2008 também faz parta da busca por tempo livre para produzir mais obras. “Quero ampliar a visão no aspecto mais regional, dentro do período que pesquiso, o século 19, e tentar uma resposta mais abrangente.” Tarefa que precisará de toda a concentração do autor.

A atividade de professor complementou o historiador. “No momento em que repassas o que foi pesquisado, percebes que os alunos têm perguntas que tu não farias. Isso me fazia pensar e encontrar outras respostas”, comenta. Escrever textos acessíveis e ter uma boa comunicação em entrevistas e palestras também é aperfeiçoamento lapidado em sala de aula. Para ele, o cuidado e a fundamentação científica não deixam de lado a fácil compreensão das mensagens passadas.

Os elogios sobre o Mario professor não são poupados. O ex-aluno Henrique Pires, hoje presidente do Instituto João Simões Lopes Neto, resume o que nota quem assiste as aulas de História de Pelotas: “Ele é apaixonado pela disciplina que ministra, e isso é fundamental em sala de aula.”
E quem convive com Mario elogia sua dedicação à história e o temperamento harmonioso de se conviver. Privilegiados os que terão uma última oportunidade de vê-lo em frente da classe.

Conheça mais

Mario Osorio Magalhães

Nasceu em 24 de novembro de 1949

Professor da Universidade Federal de Pelotas desde 1975, iniciou a carreira acadêmica como docente do curso de Direito, sua graduação original, e desde 1985 se dedica inteiramente à História. Tem mestrado na área desde 1993 e é autor de 15 livros, além dos muitos que organizou, prefaciou e contribuiu. Foi colaborador do Diário Popular em diversas ocasiões, e, entre 2001 e 2008, assinou uma coluna semanal sobre história no caderno Estilo. Na UFPel foi diretor do Instituto de Ciências Humanas por dois mandatos e chefe do Departamento de História.

Mario por amigos

“Conheci o Mario pelos escritos e depois tive o prazer de ser seu aluno no ICH. É uma pena que ele deixe a sala de aula, mas fico feliz porque sei que irá dedicar mais tempo para escrever. Ele é um grande parceiro do Instituto e mais que um pesquisador, é um divulgador da importância da obra de Simões nacionalmente. E os textos dele, pela fundamentação que têm, já salvaram diversas casas e prédios; suas colocações sempre são utilizadas nos processos de tombamento e restauração. Em sala de aula, fala da história com uma paixão que parece ter estado lá, junto.”
Henrique Pires, Presidente do Instituto João Simões Lopes Neto e do Conselho Municipal de Cultura


“A cidade conhece o Mario escritor e historiador. Nós conhecemos o Mario professor, uma pessoa harmonizadora e com um nível de conhecimento sobre a história de Pelotas que não há no departamento. Ele fez um relevante trabalho como orientador de diversos trabalhos importantes de alunos e como administrador do instituto.”
Fábio Cerqueira, diretor do Instituto de Ciências Humanas da UFPel (ICH)

“É uma pessoa com profundo conhecimento e amor pelas coisas de Pelotas. Sem dúvida é uma perda para o departamento. Temos um convívio de vários anos e ele é um ótimo amigo, uma pessoa boa de se tratar e de se trabalhar.”
Beatriz Loner, pesquisadora e professora do departamento de História do ICH.

“O Mario Osorio Magalhães tem feito um trabalho notável para Pelotas. Ele faz um resgate constante da nossa história, e é importante tanto o trabalho de pesquisa própria quanto o que faz como professor e orientador na UFPel. Temos muito orgulho de tê-lo como membro da Academia. Como escritor e historiador, ele reescreve a história, mas com fidelidade, e a torna muito acessível ao público.”
Zênia de Leon, presidente da Academia Pelotense de Letras

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